terça-feira, 2 de novembro de 2010

Antes tarde do que nunca

Dia dos mortos - há quanto tempo não visito um cemitério!
Os mortos que me perdoem, mas tenho horror a cemitério. Eu me sinto meio mal, mas tenho que confessar: desde que me mudei para Mato Grosso nunca mais visitei o túmulo dos meus pais no Rio de Janeiro e não tenho vontade de ir. Fui muitas vezes ao cemitério para "ver" meu pai quando era muito pequena e isso meio que me traumatizou. Enquanto minha mãe e minhas irmãs rezavam, eu ficava imaginando meu pai lá dentro do túmulo, sozinho. Morria de medo daquelas histórias de gente que era enterrada sem estar realmente morta e me assustava a ideia de que isso pudesse acontecer comigo ou alguém da minha família.
Por mim, todos seriam cremados e não haveria cemitérios. As cinzas ficariam em potinhos, que não ocupariam muito espaço ou então seriam espalhadas em algum lugar, conforme a vontade do morto. Meu tio Natalino Fontes, por exemplo, quis que suas cinzas fossem espalhadas no Pantanal mato-grossense, onde tinha suas fazendas. Achei tão bonito isso!
Quando eu morrer, se for possível, quero que meus órgãos sejam doados e depois ... sei lá, não quero pensar nisso agora. Acho que gostaria de ser cremada para não correr o risco de acordar debaixo da terra.
Hoje, assim que acordei, pensei por alguns segundos nas pessoas que amei e que já se foram: meus pais, meu irmão Zezinho, meu sobrinho Del. É sempre neles que penso em primeiro lugar. Depois penso nos meus cunhados, outros parentes e amigos que já foram. Ainda bem que são poucos. Sou muito grata por isso.
Eu me lembrei de novo de Lúcia Rito - amiga querida que foi de uma generosidade ímpar comigo. Mas não pensei nela por ser Finados e sim porque nesses dias de muita reflexão, descobertas e interrogações, eu voltei a me lembrar da energia dela, de sua enorme criatividade. Como tinha planos e ideias, minha amiga Lúcia! A última vez que a encontrei foi a dois dias de uma cirurgia da qual ela não mais se recuperou. Ela parecia tão otimista e combinamos de dançar salsa em algum lugar do bairro carioca de Santa Tereza no dia seguinte. Eu não fui porque era véspera de eu ir embora e achei que tinha que ficar com minha família. Hoje eu me arrependo.
Por isso acho que a gente tem que procurar viver e dar o melhor de si para cada pessoa que é importante a cada momento. A gente não deve guardar, reservar o amor para momentos apropriados. Sempre fui muito comedida nas minhas manifestações de amor, como se o amor gastasse e tivesse que ser usado com parcimônia. Como se dentro de mim tivesse uma vozinha dizendo: "Vê lá se você não vai se arrepender de dar seu amor a essa pessoa! Será que ela digna de seu amor?
Os mortos estão mortos e torço para que sejam espíritos e recebam nossas manifestações de amor, ainda que tardias e expressadas longe dos cemitérios.
Por isso, apesar de desempregada, eu vou ao Rio de Janeiro este mês: para rever algumas pessoas que amo, inclusive, amigos que estiveram muito afastados nos últimos 20 anos e que agora vou rever.

PS: Se alguém que estudou na Escola da Comunicação da UFRJ na minha turma ler por acaso este post, entre em contato comigo (martharb@terra.com.br): estamos organizando um pequeno encontro no próximo dia 17.


2 comentários:

Terezinha disse...

Você ficou com trauma de cemitério porque tinha que visitá-lo quando criança. Eu, ao contrário, fui "preservada" do contato com a morte. Nunca fui levada a um cemitério ou velório na minha infância. Sempre achei que, pela falta de intimidade, deveria ter crescido apavorada com a ideia da morte. E, no entanto, é justamente o oposto. Ainda criança, convidava minhas amigas para "passear" às escondidas no cemitério! Até hoje gosto desse "programa", embora raramente o faça. Não é uma coisa mórbida, muito pelo contrário. Gosto da quietude, da serenidade que se encontra entre as aléias; e de ler os nomes e datas nos túmulos, olhar as velhas fotografias e tentar reconstituir fragmentos de histórias para aqueles rostos desconhecidos.
Mas não faço questão de visitar os túmulos dos que amei. Prefiro pensar neles vivos, relembrar momentos compartilhados.

Martha disse...

Ontem, depois de escrever este post, assisti a uma matéria linda sobre Finados no Jornal da Globo. Mostrou cemitérios bonitos, com música, espaço de recreação para crianças.
Hoje, consigo ver alguns cemitérios como um lugar de paz, mas tomei uma certa aversão ao Cemitério do Caju, onde meus pais estão enterrados. Acho o clima muito opressivo e hoje ainda tem o problema da insegurança. As pessoas não podem mais velar seus mortos em paz.