Confesso que estou bem em dúvida sobre o que escrever. Tantas coisas aconteceram desde o último post. Não foram coisas transcendentais ou dignas de sair no jornal, mas pertinentes a um blog no estilo que venho construindo. Às vezes fico meio grilada de ficar olhando demais pro meu próprio umbigo, mas este espaço é meu (embora adore compartilhá-lo) e o único risco que corro é de perder meus parcos leitores.
Eu gostaria de falar um pouco sobre o filme a que assisti em SP e que mexeu muito comigo: "O escafandro e a borboleta". Para quem não viu ou não conhece o livro (aliás, um raro caso em que o filme superou o livro, na minha opinião), trata-se da história de um jornalista, redator-chefe da revista "Elle" (badaladíssima), que tem um ACV aos 43 anos, assim do nada. O interessante é que a história é contada por ele mesmo graças a um método ao mesmo tempo simples e engenhoso criado por uma das profissionais que o assistem. Ela vai citando as letras do alfabeto começando com as mais usadas na língua francesa (aliás, nesse ponto a tradução fica muito estranha). No momento em que diz a letra que o jornalista quer, ele pisca. O processo é lento, mas aos poucos ambos (quem dita e o doente) vão ficando mais ágeis. É fantástico e é dessa capacidade de expressão que o autor (Jean Do) tira seu título: ele se sentia como num escafandro, enclausurado, sem poder se comunicar com o mundo, e de repente se sente como uma borboleta, que passa por um incrível processo de metamorfose.
É estranhamente assustador pensar que qualquer um de nós - eu, você - pode passar por uma situação dessa, ficar paralisado, sem qualquer tipo de movimento e ainda sem voz. É ao mesmo alentador conhecer a história de uma pessoa que superou seu "enjaulamento".
O que é mais complicado ainda é saber que tenho voz, gestos e outras formas de expressão e muitas vezes não consigo comunicar o que sinto! Sei escrever - dizem que escrevo bem, com o coração - e não consigo expressar o meu eu mais profundo!
Hoje, caminhando no fim da tarde para minha aula de yoga, eu estava muito triste pensando em quem sou de verdade e no quanto eu me revelo para as pessoas. Fiz uma aula muito gostosa, sentindo o calor das lágrimas rolando no meu rosto, e depois fui para o ensaio do coral Cantorum, meio desanimada, porque o lugar onde estávamos ensaiando era terrivelmente quente e inóspito. Mas para minha surpresa houve uma mudança no local de ensaio (estamos agora numa sala no Cefet com ar condicionado, ventilador, iluminação boa, água, etc) e começamos a ensaiar uma peça nova: a continuação da Missa do Gilberto Nasser, nosso colega de coro. Foi muito gostoso! Foi como um reencontro com o Cantorum. Saí de lá bem mais feliz e me sinto grata por poder usar a minha voz e poder estar aqui contando tudo isso pra vocês.
Um comentário:
O filme é mesmo lindo e comovente. Além de ser uma aula de cinema. Nós, os seus "parcos" leitores, já estávamos com saudade. Ainda bem que você voltou logo.
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