quinta-feira, 8 de maio de 2008

Cenas fortes

Hoje me enrolei no trabalho e quase não achei tempo para escrever, mas como não quero decepcionar meus poucos e fiéis leitores, gostaria de comentar dois assuntos diferentes que me chamaram muita atenção (aliás, de todo país) ontem.
O primeiro foi o depoimento da ministra Dilma Roussef no Senado. Uau! Quando eu crescer quero ser igual à Dilma! Como ela demonstrou autocontrole para responder à provocação do senador Agripino Maia. A sua resposta foi emocionada, porém firme. Quando o senador questiona a sua capacidade de dizer a verdade sob o argumento de que ela reconheceu ter mentido sob tortura numa entrevista, a ministra encarna por alguns instante todo o heroísmo dos jovens de esquerda torturados no regime militar. Ela ressalta que mentir naquele momento era proteger os companheiros. E emenda dizendo que hoje os tempos são outros e que esta ali para responder, para esclarecer. Touché!
Outra coisa igualmente forte foi a interrupção da programação normal e os flashes no Jornal Nacional para mostrar a saída dos pai e da madrasta da menina Isabella. Que loucura! O que mais me chocou foi ver tantas pessoas deixando de fazer seus afazeres, de ficar em casa cuidando de seus filhos, para quê? Vingar a morte da menina ou para fazer mais uma encenação do velho espetáculo romano do circo? Outra coisa: quanto a polícia não gastou naquela operação? Quantos criminosos não se aproveitaram daquele momento para cometer seus roubos, agressões, etc? Minha filha me perguntou por quê outros crimes (esta semana mesmo uma mãe confessou ter matado o filho de 3 anos em Cuiabá) não têm a mesma repercussão. Na minha humilde opinião, o caso de Isabella mobiliza mais a opinião pública porque envolve pessoas de classe média e a vítima é uma menininha bonita com um belo futuro pela frente. No fundo, ninguém - nem os mais pobres, nem os mais ricos - espera que pessoas com uma certa posição social ajam como criminosos.

Um comentário:

Sérgio de Oliveira disse...

A mídia mais uma vez faz aquilo em que vem se especializando: a carnavalização do horror. Fico pensando nos editores, nas redações, obrigando (?) repórteres a produzir notícias do nada. A coitada da repórter do JN, no dia da prisão do casal, não sabia mais o que dizer. Todos os canais repetiam a mesma ladainha. Me pergunto: com que objetivo? Será que a superexposição de um fato como esse melhora a sociedade? Ou simplesmente banaliza a tragédia, até nos tornarmos insensíveis e partir pra outra manchete? Lembro-me do filme Tropa de Elite. Aquilo servia a quem? Arte não era, com certeza. Mudou a realidade da criminalidade? Alguém ficou mais consciente da tragédia do crime organizado e tomou alguma atitude? Ou simplesmente a violência entrou em nossas mentes como um componente inevitável da realidade?