sábado, 3 de maio de 2008

A menina que roubava livros

Estou lendo um livro maravilhoso: "A menina que roubava livros", de Markus Zusak. É comovente, tenso, denso e bastante original. Acabei de ler a parte em que Marx, o judeu escondido na casa do casal Hubermann escreve uma história ilustrada e a dá de presente à menina Liesel, a que roubava livros.
Como é gostoso ler! Hoje, como estou com dor e não posso sair, eu me permiti ler bastante, mas nem sempre é assim. Sinto quase sempre uma certa culpa ao ler como se alguém me perguntasse se não teria algo mais "útil" para fazer. É como se ler fosse um prazer estéril e que o tempo empregado na leitura não pudesse render frutos palpáveis como coisas para comer, sapatinhos de tricô ou colchas de crochê. Hoje, sei racionalmente que devo à leitura o fato de escrever com fluência e até bem (reconheço), qualidades fundamentais para o meu trabalho.
Nunca precisei roubar livros. Eles estavam na minha casa, nas bibliotecas as quais tinha acesso ou nas estantes de amigos e parentes. Quase nunca precisava comprá-los e lamento profundamente ter jogado fora na mudança para Mato Grosso a lista de todos os livros que li até 1988. É como se lá estivesse também escrita um pouco da minha história: as fases, emoções, os momentos de maior isolamento e solidão, os primeiros amores, as viagens, etc.
Nunca roubei livros, mas já tive livros roubados e lamento profundamente por eles. Não consigo perdoar as pessoas que me tomaram alguns de meus livros favoritos, como "Quarup" de Antonio Calado e "Ensaios" de Ralph Waldo Emerson. Na verdade, eu os emprestei e eles jamais foram devolvidos. Nunca mais consegui localizar as pessoas para as quais os emprestei, mas mesmo assim não aprendo a lição e continuo emprestando livros. Alguns voltam, outros não. Talvez isso faça parte do movimento da vida.

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