domingo, 15 de novembro de 2009

Bom demais!


Parecia até sonho: eu na Chapada dos Guimarães ouvindo música instrumental da melhor qualidade e ainda por cima de graça!
Quem foi para Chapada dos Guimarães neste fim de semana certamente não se arrependeu e teve o privilegio de presenciar o nascimento de um evento que promete ter vida longa. O 1º Festival da Jazz de Chapada dos Guimarães começou com pé direito.
Na primeira noite, sexta-feira, chegamos à rua dos restaurantes por volta de 20h, horário previsto para o início da programação e tinha pouquíssima gente nas cadeiras colocadas diante do palco. Mais tarde, o curador do festival, o contrabaixista Ebinho Cardoso, me contou que também se preocupou se o público viria prestigiar o evento. Ainda bem que veio. No sábado, então, veio muita gente de Cuiabá para assistir a um festival que já nasceu grande, incrivelmente bem organizado, mas com aquele sabor de intimidade que tanto convém ao jazz. Quase todos os músicos que se apresentaram fizeram questão de conversar com a plateia, destacar o nome de Ebinho, desejar sucesso à iniciativa e falar de seu prazer de estar tocando ali.
E foi isso que todo mundo passou: muito prazer de estar tocando um tipo de música de público ainda restrito, principalmente no interior do país. E olha que o 1º festival de jazz da Chapada reuniu muitas feras: foram três apresentações diferentes por noite - a quantidade ideal para que o público pudesse absorver o máximo daquela oportunidade rara.
A primeira noite começou com a dupla Nélson Faria, na guitarra, e José Namen, no teclado. Eles apresentaram alguns temas clássicos do cancioneiro popular como "Chão de estrelas", em interpretações bem suingadas e com excelente domínio da linguagem jazzística. Em seguida, o clima esquentou com o Celso Pixinga Trio, formado pelo veterano contrabaixista Celso Pixinga e dois rapazes muitos jovens no teclado (Bruno Alves) e na bateria (Giba Faveri), e a noite terminou com o som alegre, vibrante e brincalhão do Galinha Caipira Completo de Brasília. A chuva que caiu e o nevoeiro típico da Chapada deram um toque especial à noite.
A segunda noite começou suave com o som dos irmãos Eduardo e Roberto Taufic. Com 10 anos de diferença, os dois irmãos mostraram um entrosamento fantástico. Eduardo, o mais jovem, mora em Natal, Rio Grande do Norte, e Roberto mora na Itália, mas conserva o sotaque nordestino. Apresentaram temas belíssimos como "Fotografia" de Antonio Carlos Jobim. Mais ou menos como na noite anterior, o jazz mais intimista da dupla foi sucedido por uma apresentação mais pauleira e autoral do saxofonista brasiliense Ademir Júnior, que tocou com três músicos mato-grossenses: o próprio Ebinho, o guitarrista Sidnei Duarte e o baterista Sandro Souza. Foi muito bom! Para fechar a noite, o jovem pianista David Feldman apresentou um trabalho que revive o som do lendário Beco das Garrafas, um dos templos da bossa nova no Rio de Janeiro. Ele tocou acompanhado de dois músicos da pesada: o baterista Márcio Bahia e o contrabaixista - cujo nome não me recordo lamentavelmente, mas vou procurar descobrir para registrar aqui - que chegou a tocar no Beco das Garrafas, em Copacabana.
As duas noites foram tão boas que, se me pedissem para escolher qual apresentação gostei mais, teria dificuldade para responder. Foi tudo tão harmonioso, tão agradável que só me resta agradecer o privilégio de poder ter assistido ao início de mais um festival de jazz (sem querer comparar, tive a sorte de ver nascer no Rio de Janeiro o Free Jazz Festival, nos anos 80) e torcer para que venham muitos outros.
Apenas uma observação: os restaurantes da "rua dos restaurantes" não parecem ter se preparado para o evento. O dono de um deles me disse que "não sabia que ia ter mesas na rua". Acho estranho porque eu, que vim de Cuiabá, já sabia que ia ter. Com isso, a gente tinha que ir até o balcão pagar pela bebida ou comida e optava por ir buscar o pedido em alguns minutos ou ficar horas esperando.

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