domingo, 21 de setembro de 2008

Fábula

Encontrei este texto perdido na pasta dos rascunhos. Nem sei por que não o publiquei na época que escrevi ... Dei uma relida, corrigi alguns erros de digitação e acho que ele merece ser compartilhado:
Era uma vez uma menina que se achava muito especial porque veio ao mundo de uma forma meio inesperada - uma raspa de tacho, como dizia sua mãe. Ela acreditava que tinha uma missão a cumprir, que deveria ser uma espécie de santa, ou um daqueles gurus que apontam novos caminhos ou conseguem quebrar paradigmas. Via muitas injustiças no mundo e pensava que aquilo tinha que mudar. Sob sua ótica cristâ, não era justo que alguns nascessem tendo tanto e outros, nada; que uns vivessem com tão pouco, enquanto outros nem sabiam o que fazer com o dinheiro.
Ela foi crescendo, lendo muito, estudando e participando como podia dos movimentos que propunham mudanças, mas logo se decepcionou por perceber em quase todos os "companheiros" a ambição, o desejo do poder. Escolheu uma profissão pensando no seu papel no mundo: queria que mais pessoas soubessem o que se passava, tivessem informações, tomassem consciência, ainda na ilusão de que isso levaria a uma mudança radical.
Decepcionou-se e acabou surpreendendo todos que a conheciam com uma mudança de rumo repentina. Foi morar no interior, casou-se, teve filhos, na esperança de que encontraria na formação de seu núcleo familiar um sentido para a vida, a sensação de aconchego, de pertencimento que ainda não tinha encontrado.
Viveu alguns anos nessa ilusão até que o castelo desmoronou. Descobriu que não tinha encontrado o príncipe encantando e que não tinha vocação para princesa ou rainha. Caiu no mundo mais uma vez, fragmentada, buscando colar os pedaços do que fora e não era mais. Era uma nova mulher, com os pés no chão, bem mais cética e descrente em relação às pessoas, porém ainda ávida por encontrar respostas para as velhas questões que acompanharam sua infância e adolescência. Qual seria o seu papel no mundo?
PS. Qualquer semelhança com fatos e pessoas reais não é mera coincidência.

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