domingo, 14 de agosto de 2011

A arte de viver de arte

Compartilho aqui hoje um artigo meu publicado na página de Opinião do Dário de Cuiabá de sexta-feira:


Nos três meses de trabalho no Ilustrado, o caderno de Cultura deste Diário, conheci pessoas muito bacanas que se dedicam à nobre atividade de fazer arte. Algumas eu já conhecia, mas o fato de entrevistá-las, de ter permissão para uma conversa mais aprofundada, me deu outra visão sobre elas.

Ainda estou naquela fase de me surpreender e isso torna o meu trabalho quase sempre prazeroso. Que me desculpem os burocratas, mas não consigo trabalhar sem prazer, sem acreditar naquilo que faço.

Nessas conversas surgiram fatos e falas interessantes, mas hoje vou me ater a uma delas. Na segunda-feira passada entrevistei a poeta Luciene Carvalho para uma matéria publicada no Ilustrado de terça-feira, dia 9, sobre dois projetos envolvendo a importância dos quintais na identidade cuiabana. Durante a entrevista, Luciene falou sobre sua preocupação em fazer da arte um caminho profissional. Disse que, como artista, gostaria de não ter que fazer um concurso público para conseguir um emprego qualquer e poder dar continuidade à sua arte.

Fiquei pensando em como é difícil viver dignamente da arte, sobretudo se o artista não fizer uma arte mais comercial. É claro que sempre vai haver artistas que ganham fortunas por caírem nas graças de um público maior. Isso acontece no futebol, no jornalismo, em várias profissões: tem uma meia dúzia que ganha muito bem e outros tantos profissionais que vão ganhar apenas o suficiente para pagar suas contas e olhe lá.

Mas acredito que no caso da arte é diferente: o artista que não faz um sucesso estrondoso e não vive na mídia não consegue sequer o mínimo necessário para sobreviver.

A primeira matéria que fiz para o Ilustrado foi com o artista plástico Sitó e ele reclamou da situação de penúria em que vivem muitos pintores e escultores mato-grossenses. Reclamou, inclusive, da má aplicação dos recursos dos projetos de cultura da esfera governamental. Deve ser muito complicado você ficar dependendo da aprovação de um projeto cultural para tocar sua vida.

Vejo muitos músicos tocando em mil lugares ou se matando de dar aulas para ter uma renda razoável ou então tendo que encarar o batente em repartições públicas para poderem fazer o que gostam realmente. Eu me lembro de um amigo músico que tinha conseguido um DAS numa secretaria de estado graças a um padrinho político. Mudou o governo e o “emprego” se foi.

Em capitais maiores, a batalha pela sobrevivência para quem vive de arte não é menos árdua e a disputa por espaço é até mais acirrada, porém há mais oportunidades e se valoriza mais o artista, que não é visto como supérfluo.

Acho que chegamos ao ponto nevrálgico: a arte e artista tendem a ser vistos como supérfluos na nossa sociedade e, por isso, são tão desvalorizados, ao menor sinal de crise. Mas a literatura, a música, o teatro, o cinema, as artes plásticas, a dança e outras formas de arte são imprescindíveis. Desculpem o lugar comum, mas a arte é o alimento do espírito, uma forma de expressão, de contar a história do mundo para futuras gerações. Sem ela, a vida fica bem menos interessante; por isso é importante valorizar e tratar o artista com dignidade.

2 comentários:

Sérgio de Oliveira disse...

Há tempos insisto que o agronegócio patrocine a cultura mato-grossense, como o fizeram os barões do café, coronéis da cana e reis da borracha no Sul, Sudeste, Nordeste e Norte. Chegou a hora da soja e do algodão patrocinarem a produção artística, e não apenas a pintura dos prédios históricos. Precisam ser cobrados por isso, a começar por alguma matéria nesse sentido.

Martha disse...

Sugestão interessante. Anotada!