quinta-feira, 9 de junho de 2011

Vespeiro

Hoje vou falar de um assunto delicado: a invasão da usina de Dardanelos em Aripuanã por índios das etnias Arara e Cinta Larga. Como estive lá em março passado, não resisto a fazer algumas considerações sobre o caso, depois de ler matérias de sites mato-grossenses dizendo que a usina destruiu o Salto Dardanelos e que a empresa responsável pela construção, a Energética Águas da Pedra, não cumpriu o prometido com as comunidades indígenas.
Quero deixar claro que viajei a Aripuanã para fazer um trabalho para essa empresa e, portanto, sou tecnicamente parcial, mas eu estive no município durante vários dias, circulei livremente, conversei com gente do governo, pessoas comuns, ribeirinhos, produtores rurais e realmente constatei que a empresa trouxe vários benefícios para a comunidade, que sempre viveu esquecida de todos.
Não vou discutir aqui se a usina hidrelétrica deveria ou não ter sido construída ali. Isso não me compete e não vai adiantar ficar discutindo isso nesta altura do campeonato. O que posso assegurar é que a empresa trouxe benefícios para a comunidade  nas áreas de saúde, educação e principalmente no que diz respeito à capacitação. Construiu um hospital, um centro de educação continuada com auditório, pavimentou ruas e avenidas, enfim, acabou fazendo um papel que é, em tese, do estado (governo e município).
Aripuanã é uma região linda, cheia de atrativos (cachoeiras, rios maravilhosos), mas fica totalmente isolada na maior parte do tempo. O município está a quase mil quilômetros da capital e no período das chuvas desse ano só era possível chegar de lá de avião. Como fazer turismo, como se desenvolver num município tão isolado?
Durante minha estadia ouvi relato de moradores que questionavam a ajuda dada aos índios, que vivem a 40 km (os Arara) e 90 km (os Cinta Larga) do local onde a hidrelétrica foi construída. O que ficou claro para mim é que foi firmado um Termo de Compromisso com os indígenas, após a invasão de agosto de 2010,  estabelecendo as responsabilidades da empresa, da União, do Estado de Mato Grosso e do município em relação a demandas de infraestrutura (moradia), educação, saúde e projetos de sustentabilidade.  Até onde sei a empresa cumpriu a sua parte, mas será que o governo (federal, estadual e municipal) cumpriu a sua?
Ou seja, qualquer matéria veiculada na mídia responsável teria que apurar tudo isso e não jogar com os chavões de sempre, dizendo que a usina acabou com a cachoeira, etc, etc. Realmente a visão da hidrelétrica rasgando a mata causa impacto, mas, como eu já disse, a usina - considerada uma obra de engenharia exemplar - já está pronta. A quem interessa ver o circo pegar fogo?

2 comentários:

Roça de Livros disse...

Oi Martha,
não sei nada sobre a usina de Dardanelos e não ousaria dar nenhum palpite contra ou a favor. Mas, muitos anos atrás, cobri durante muito tempo a construção de várias grandes hidrelétricas. O que eu observava é que as empresas responsáveis erguiam uma estrutura social e de serviços muito boa - até sofisticada - mas que atendia principalmente a seus próprios funcionários. Ou seja, a população local ficava no máximo com as sobras - insuficientes para a quantidade de pessoas de fora atraídas pela usina, mas que nao tinham empregos na obra. Vale dizer: a usina aumentava a demanda por serviços no município, mas a infra-estrutura que construía não era suficiente para toda essa demanda. Não estou afirmando que isso acontece em Dardanelos. Apenas me pergunto.
Abs.
Terezinha

Martha disse...

É muito pertinente a sua observação.
Em Dardanelos, aparentemente, isso não aconteceu, embora haja controvérsias. O que percebi lá é que o município é muito isolado e recebe pouco apoio do estado, por isso a demanda em relaçào à empresa que construiu a usina é imensa, o que é um direito legítimo da população.
Mas o que salta aos olhos é a inoperância do poder público, aí incluída, é claro, a Funai - um órgão totalmente falido e que não cumpre sua missão, na minha opinião.