sábado, 30 de abril de 2011

Descartável

Acabei de ler um texto lindo, atribuído ao escritor uruguaio Eduardo Galeano (em tempos de internet, a gente nunca sabe se os textos realmente foram escritos pelos autores aos quais são atribuídos).
Ele fala sobre a sua inadaptação a um tempo em que muito pouco se guarda e quase tudo é descartável, devendo ser substituído por modelos mais novos. Com isso produz-se muito mais lixo que num passado recente e as pessoas vão mudando seus valores.
Eu me identifiquei com o texto porque sou muito apegada às coisas e fui criada por uma mãe muito econômica que vivia ralhando comigo dizendo para eu aproveitar melhor a pasta de dente do tubo. Ela também chamava minha atenção para outros tipos de desperdício.
É engraçado: às vezes me pego ralhando com minhas filhas (principalmente a mais velha que mora comigo) pelos mesmos motivos.
Eu tinha mania de coleção: de gibis, de adesivos (aqueles plásticos que a gente ganhava de lojas, clubes, e pregava na janela), caixas de fósforos, cartões postais, etc. Nas minhas mudanças de casa - do apartamento da minha mãe no Flamengo para o Jardim Botânico, no Rio de Janeiro, depois para Cáceres e, mais tarde, para Cuiabá - fui sendo obrigada a me desapegar de algumas coisas, mas mesmo assim ainda guardo muita tralha velha: cartas de amigos, revistas - Realidade, Veja, Cruzeiro -  e jornais velhos. Um dia vou me embora deste mundo e o que vai acontecer com as coisas que acumulei?
Mas voltando ao assunto original, o que mais me tocou no texto atribuído ao Galeano foi a passagem sobre as fraldas dos filhos que eram lavadas e usadas novamente. Sou mais jovem do que o autor, mas eu também não usei fraldas descartáveis nas minhas filhas. Usei uma vez, achei que dava alergia na primogênita e me mantive fiel às fraldas de pano (compradas por minhas irmãs na Casa das Fraldas no Rio). Tudo parecia relativamente fácil, já que eu tinha uma pessoa maravilhosa que me ajudava nos trabalhos de casa.
Eu me lembro que na época da fazenda Recreio, no Pantanal, algumas vezes eu propunha uma troca com Ledina, minha querida ajudante: ela ficava cuidando da Diana, enquanto eu lavava as fraldas de pano no  corixo. Eu ia de biquíni e aproveitava para tomar sol. Imagine a cena! Mas era Ledina quem passava meticulosamente as fraldas com um ferro-a-brasa que parecia pesar uma tonelada, nas tardes quentes do Pantanal.
O texto enviado por um amigo do Rio me trouxe muitas lembranças  e se for puxando o fio da meada não paro tão cedo. Vou fechar o bauzinho das memórias por enquanto porque preciso liberar o netbook para minha filha estudar e preciso fazer outras coisas agora.

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