terça-feira, 1 de fevereiro de 2011

E agora, José?

Tudo como dantes no quartel do Abrantes: José Sarney assume novamente a presidência do Senado; em Mato Grosso, José Riva assume pela quinta vez a presidência da Assembleia Legislativa.
Essa notícia deveria ser tranquilizadora e prova de que temos políticos de bem no comando das principais casas legislativas nas esferas federal e estadual.
Ledo engano. Ler isso só me deixa para baixo e resolvi comentar logo o assunto no blog para botar para fora minha frustração, minha raiva.
Nem precisa falar de Sarney. Todo mundo conhece o homem do bigode, coronel da principal oligarquia maranhense que se grudou como ostra ao poder desde que me entendo por gente. Sai presidente eleito, entra governo militar, entra presidente eleito pelo colegiado (com apoio do povo) e ops ... por um azar do destino, ei-lo presidente do Brasil, o vice que estava ali só para compor. Claro que não. O homem é forte, poderoso, nada o derruba, como pudemos ver recentemente com um monte de escândalos envolvendo a Fundação que leva seu nome. O que me irrita mais é ouvi-lo na Rádio Senado (naqueles terríveis intervalos em que pára de tocar música boa) dizer que ele não queria a presidência novamente. Aceita esse encargo com espírito de sacrifício. Tadinho ... É de cortar o coração... Argh
Quanto ao deputado José Riva, é adorado pelo povo do Norte do Estado, onde tem seu curral, mas conseguiu também se tornar uma espécie de Sarney mato-grossense. Está envolvido em vários escândalos (quem quiser ler, é só procurar sua ficha corrida nos sites de busca), mas se eterniza no poder, é bajulado pelos governantes e nos dá a sensação de que nada muda na política.
Não posso terminar esse post de uma maneira tão negativa e resignada. O que posso fazer? Além de tocar minha vida com honestidade, tentar não fazer mal para ninguém, procurar o amor dentro de mim, estudar, escrever, desabafar? Sei que tudo isso é pouco, mas no momento nada mais me vem à mente, infelizmente.
Tenho uma profissão valente, mas que não me é de grande valia - a não ser para sobreviver - nesse contexto atual.
Mudando totalmente de assunto, ontem fui ao velório de uma amiga, uma pessoa que conheci há menos de um ano, alguns anos mais velha que eu, que lutava contra um câncer há muito tempo. A  amiga em comum que nos apresentou em abril passado sempre elogiou a força da amiga na luta contra a doença. Ela sabia que não resistiria por muito tempo, mas nunca deixou de beber sua cerveja, fumar e cantar. Apesar das dores intensas, procurava manter o astral alto.
Ontem no seu velório as pessoas choraram pela perda da amiga, mãe, filha, irmã, mas cantaram em sua homenagem. Entre outras canções, o povo cantou "O que é, o que é" de Gonzaguinha, um dos sambas mais bonitos e inspirados que conheço.

"Viver e não ter a vergonha de ser feliz
Cantar a beleza de ser um eterno aprendiz
Eu sei que a vida podia ser bem melhor e será
Mas isso não impede que eu repita
É bonita, é bonita e é bonita"

É isso aí. A vida é bonita apesar do Sarney e do Riva.
Espero que a Lúcia esteja bem onde estiver.

PS: "Quando eu morrer, não quero choro, nem vela..."
Quero música! De preferência, músicas alegres. Nada daquelas músicas para cortar o coração, tipo violino, um saxofone solitário, ok?

2 comentários:

Jane disse...

Qdo Drumond escreveu o seu "E agora, José?" esses 2 Josés ainda não nos perturbavam, mas mtos outros já estavam no "comando", mtos outros para quem a festa não acaba, a luz não apaga, a porta sempre existe. E cada vez mais continuam existindo os Josés do poema, sem discurso, sem carinho, sem porta, sem utopia..., mas, como vc, com mta coragem para continuar a marcha. Pra onde?...
Sinto mto pela morte da Lúcia com quem encontrei uma só vez. Conversei pouco com ela, mas foi o suficiente para não esquecê-la e sentir a sua simpatia e o seu alto astral.
Qto ao PS, prefiro apenas dizer que ainda quero ouvi-la cantar por mto tempo e estou esperando ansiosa para nos divertirmos juntas neste carnaval.

Martha disse...

Obrigada pelo comentário inspirado, que é quase um poema.
Pois é, hoje Mato Grosso é tristemente destaque no portal Terra: uma pelo fato de um deputado cassado ter assumido a presidência da Assembleia Legislativa e outra por causa de um frei pego em flagrante com uma menor saindo de um motel em Várzea Grande no carro da diocese. Seria até cômico se não fosse sério!