segunda-feira, 30 de janeiro de 2012

Vida e morte

Quanto mais eu vivo, mais me conscientizo do quanto a nossa vida é frágil. Faço planos de valorizar cada momento com as pessoas que amo, não dar valor às coisas sem importância e viver cada dia como se fosse o último, ou seja, sem perder tempo com bobagens. Mas como é difícil passar da teoria à prática!
Porque estou falando disso? Porque nos últimos dias o tema da morte/vida esteve muito presente por causa dos últimos acontecimentos no Rio de Janeiro (os prédios que caíram, a explosão de mais um bueiro) e do falecimento do pai de uma amiga.
No sábado, troquei o samba no Chorinho pelo velório de Sr. Salvador, pai de Sandra, uma das mais assíduas e tradicionais frequentadoras do bar Choros & Serestas. Ele morreu de coração repentinamente e era marido de D. Adelaide, que também costuma cantar nas rodas de samba. É uma família unida, que acompanho desde 2003 quando comecei a frequentar o Chorinho. Conheci também sua outra filha Cláudia e dois netos.
Não sou íntima da família, mas, aos poucos, fomos ficando mais próximos. Afinal, a gente se encontra quase todo sábado e em outras oportunidades, como alguns almoços e aniversários que reúnem a turma do Chorinho. Nunca conversei muito com o sr. Salvador, mas ele era uma pessoa tão gentil que fui me afeiçoando. Achava tão bonitinho o jeito como acompanhava a mulher e a filha e parecia se orgulhar da performance das duas ao microfone.
Vê-lo com olhos fechados e a fisionomia serena num caixão foi muito estranho. Tento imaginar que existe vida além da morte, mas, sinceramente, não consigo ter essa certeza. Sei que o que a pessoa foi, seu exemplo, sua história ficam através de seus descendentes, amigos - o que muitas pessoas chamam de "espírito", mas o corpo, esse que nos ocupa tanto, vai embora aos poucos. Não tem outro jeito.
E a vida continua, apesar da dor das pessoas que o amaram e conviviam diariamente com ele.
Fazia tempo que eu não ia a um velório e acho que é por isso que fiquei tão impressionada. Ainda mais que soube que na véspera de sua morte, sr Salvador foi a uma confraternização na casa de outro frequentador do Chorinho. Em outras palavras, ele estava se sentido bem.
Eu me lembrei de meu pai, a primeira morte que acompanhei de perto e que marcou muito a minha infância. Não fui ao seu velório, nem ao enterro (eu tinha cinco anos), mas fui várias vezes ao cemitério visitar seu túmulo e isso sempre foi uma coisa meio aterrorizante para mim: a paisagem sombria do cemitério, minha mãe chorando, o medo das histórias que ouvi sobre pessoas (em geral, santos) que voltaram a viver debaixo da terra, ou seja, que foram enterradas vivas. Essas histórias me assustavam tanto que sempre penso em deixar por escrito um pedido para ser cremada.
Aliás, na noite de sábado, assisti ao filme "Os descendentes", indicado ao Oscar. É um filme delicado, bonito, que fala sobre temas bem próximos: perda, traição, (re)aproximação dos filhos, perdão. Achei linda a cena final quando pai e filhas jogam as cinzas da mãe no mar. É assim que eu gostaria que as pessoas se despedissem deste meu corpo. Se houver jeito, gostaria que meus órgãos fossem doados, que eu fosse cremada depois e que minhas cinzas fossem espalhadas em algum lugar bonito: no rio, no mar, num campo ...

3 comentários:

Anônimo disse...

Queria muito doar minha fé a você, embora reconheça que nem sempre a certeza da imortalidade da alma nos livra da angústia da morte do corpo, tão ligado que estamos a ele e a tudo o que permeia essa nossa vida - amigos, amores, família.
Não pense na morte, querida. Ela é um despertar entre velhos conhecidos.
Você tem a teoria da valorização do que importa na vida, e em essência são coisas simples que verdadeiramente importam. Há os que ainda nem acordaram para isso e estão presos ao ter, insaciáveis porque se nutrem de fantasias. Aos poucos, degrau por degrau, você vai se conhecendo melhor, valorizando mais o presente, não se cobre tanto. Nem faça como eu, que ansioso vivo sempre o futuro.
Eu não sou exemplo, mas te ler é como conversar e, te garanto, é o máximo conversar com você. Não estou bem o suficiente para brincar contigo num momento em que você mesma não está tão acessível ao meu humor sem graça, mas não resisto. Lá vai: obrigado por me contar o final do filme que eu ainda vou ver. rs
Bj e bola pra frente!

Anônimo disse...

Perdão, meu comentário ficou muito grande.

Martha disse...

Não precisa se desculpar pelo fato do comentário ter ficado grande. É quase um blog dentro de outro blog (rsss). Quanto ao final do filme, eu pensei nisso (não gosto de estragar a surpresa dos outros), mas não é um final inesperado. Ou melhor, o filme não é feito de suspenses ou grandes surpresas, é quase uma crônica de uma situação que pessoas comuns podem viver.