terça-feira, 17 de janeiro de 2012

Linchamento

Uma das palavras mais assustadoras da língua portuguesa, na minha opinião, é linchamento.
Há décadas, quando eu ainda morava no Rio de Janeiro, houve um caso de linchamento da comunidade Agudos, na Baixada Fluminense, que chocou a sociedade. Eu não me lembro de detalhes e sim da imagem do homem linchado.
Hoje, esses casos, com raras exceções, chocam menos. E é isso que me preocupa.
Li hoje no jornal A Gazeta sobre o caso de dois rapazes presos por suspeita de assalto em Várzea Grande, que foram espancados por parentes da vítima e policiais (é claro). Eles foram confundidos com os verdadeiros ladrões.
Imagine ser confundido com um criminoso e ser espancado (ou até morto) por isso. É o tipo de episódio que deve deixar uma marca fortíssima em qualquer pessoa.
Por isso, eu me preocupo muito com essa onda de violência, misturada à sensação de impunidade e ao desejo, muitas vezes incentivado por uma parte da mídia, de vingança com as próprias mãos. A tal Lei de Talião: olho por olho, dente por dente. Em outras palavras, a volta à barbárie.
O problema é que a maioria das vítimas será invariavelmente de cor negra (ou parda) e pobre. Já viu alguém linchando um político corrupto no Brasil? Eu nunca vi porque esse tipo de criminoso está sempre protegido por forças da segurança pública ou por uma legião de doutores da lei e/ou puxa-sacos.
Outro dia, uma pessoa que me pareceu legal disse que era favorável a matar todos os bandidos (outra faceta desse espiral da violência). Perguntei a ele se era favorável a matar também os políticos ladrões e citei nominalmente dois dos mais populares de nosso Estado. Meio sem graça, ele respondeu que sim desde que ficasse comprovada a culpa deles.
Sempre que leio reportagens sobre pena de morte, chego à conclusão de que sou contra a sua adoção no Brasil: a maioria das vítimas é gente pobre e negra, e são inúmeros os casos de acusados que são executados injustamente.
E como coibir a violência? Infelizmente, o mal sempre há de existir, mas acho que ajuda um pouco se houver policiamento ostensivo, policiais bem remunerados (e melhor treinados), se os criminosos presos após exaustivo trabalho policial não forem soltos por algum juiz descuidado e se trabalharmos por uma sociedade mais justa, com mais oportunidades para todos. E se tivermos prisões mais seguras.
Não acho que pena de morte resolve. E sou totalmente contra qualquer tipo de linchamento.
Espero nunca mudar de opinião a respeito dessas questões.

2 comentários:

poesia pau brasil disse...

Martha, muito lúcido o seu texto. Concordo inteiramente. Beijo grande.

Martha disse...

Obrigada pelo comentário! Bj