sábado, 3 de setembro de 2011

Enquanto eu nadava

Enquanto nadava, eu pensava: o mundo não tem jeito ... A gente assiste ao noticiário da TV ou dos sites e vê tantas notícias ruins: mortes em tentativas de assaltos no meio da tarde em Cuiabá, mais um assalto a banco no interior de Mato Grosso, absolvição de deputada federal pega em flagrante recebendo grana de um esquema de mensalão, mulher espancada até a morte por companheiro em Cáceres, lutas que se transformam em espetáculos em que duas pessoas se esmurram até que uma seja nocauteada e denúncias de menores torturados em instituições que deveriam reeducá-los.

É tanta violência, tanta brutalidade que fico me indagando se realmente a humanidade evoluiu nos últimos séculos.

Alguns dirão: claro que sim! Hoje temos curas milagrosas, a expectativa de vida da população aumentou e temos a internet, entre tantas outras novas tecnologias.

É verdade, a vida melhorou em muitos sentidos, ficou mais confortável, mas para quem, cara pálida?

Incomoda-me pensar que muita gente não dispõe do mesmo conforto que eu, não pode correr para o dentista se um dente lhe dói com a certeza de que será (bem) atendida e, tampouco, será assistida por um médico de sua confiança se tiver uma apendicite. Sem falar que muitos não podem sequer sonhar com um prato de comida todo dia ou beber água quando têm sede ou ainda tomar um banho de verdade - esse prazer incomparável no clima escaldante de Cuiabá!

E, ao mesmo tempo, sinceramente, não sei o que fazer para que o tal estado de bem-estar social (do inglês welfare state) beneficie a sociedade como um todo e não apenas uma parcela mais privilegiada.

Há pessoas morrendo de fome na África. Como podemos ficar indiferentes às imagens de crianças e adultos esqueléticos e com a pele ressecada pela sede e pela fome?

Mas há tantos passando fome bem mais perto. Há gente sendo violentada, espancada, escravizada e humilhada o tempo todo, e há muita gente roubando, mentindo, usando o nome de Deus e outras palavras bonitas, como cidadania e solidariedade, para enganar e, muitas vezes, tirar dinheiro de quem pouco tem.

Às vezes eu acho que o inferno ou o purgatório - ou seja lá que nome tenha - para muita gente é aqui mesmo...

Eu pensei tudo isso enquanto nadava. Quando terminou o horário da natação, tirei a touca e os óculos, me alonguei e me aprontei para iniciar mais uma jornada de trabalho.

Obs. Esse artigo foi escrito para a seção de Artigos do Diário de Cuiabá e publicado na edição de ontem. Ele sintetiza minhas sensações ao longo da semana.

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