terça-feira, 14 de julho de 2009

Ai que preguiça!

Hoje estou com uma preguiça que nem Macunaíma, o herói sem caráter de Mário de Andrade. Não estou querendo parecer culta com a comparação, apenas tenho muito nítida na memória a imagem do ator Grande Otelo (que tive o prazer de entrevistar várias vezes no Rio de Janeiro) esticando os braços no filme de Joaquim Pedro de Andrade e dizendo "Ai que preguiça!" O filme era muito louco e interessante e me marcou bastante. Achava muito forte a interpretação da atriz Dina Sfat, mulher do ator Paulo José, que fazia o Macunaíma adulto, numa das muitas loucuras do filme, já que o mesmo personagem era interpretado por um ator negro e outro branco.
Durante anos eu ia ao Parque Lage e me lembrava da cena da festa do filme, filmada numa piscina da residência dos antigos proprietários, que, aliás, serviu de cenário para uma montagem muito doida de "A Tempestade" de William Shakespeare. Bons tempos ou será que eles parecem tão bons agora porque a gente tende a se lembrar mais das coisas boas e esquecer as ruins?
Isso ocorre também em relação ao tempo em que morei em Cáceres, no interior de Mato Grosso. Em geral, as primeiras lembranças que me vêm à mente são as boas: a casa grande e gostosa, o quintal, os cachorros, o espaço para as meninas brincarem e receberem amigos, o silêncio, algumas festas, as caminhadas na rua do Iate Club, a praia do Iate, os passeios de barco com os amigos em dias de muito sol, cerveja e preguiça, os domingos no Coloio, a chácara do seu Walter, pai de minha amiga Selma ... Mas tinha o tédio também de algumas tardes de muito calor em que pouco havia para fazer ...
Ainda busco meu espaço em Cuiabá, embora não raro tenha a ilusão de tê-lo encontrado ... Talvez, alguns anos adiante eu me lembre com saudades das noites de samba no Chorinho, das caminhadas no Parque Mãe Bonifácia, dos ensaios e apresentações do Cantorum e ... do carinho de alguns poucos e bons amigos.

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