domingo, 5 de outubro de 2008

O mago do contrabaixo

Hoje é domingo, pé de cachimbo, etc, etc. Não vou repetir aqui uns versinhos que povoaram minha infância e que não fazem sentido algum, como, aliás, muitas coisas que a gente repete na infância. Ainda é cedo para comentar os resultados das eleições, mas posso adiantar que fiquei muito feliz porque a minha outra irmã, mais conservadora, acabou de me contar que votou no Gabeira! E olhe que na sexta-feira ouvi coisas incríveis de uma pessoa, que eu admiro, para quem falei que gostaria de votar no Gabeira. "Como você pode querer votar numa pessoa que defende a descriminalização da maconha?" Foi apenas umas das barbaridades que ela me falou ...
Enfim, essa conversa dá idéia de como às vezes é difícil conviver, principalmente, em Mato Grosso. Mesmo as pessoas que parecem abertas, modernas, têm uns preconceitos tão arraigados!
Mas quero reproduzir aqui um texto que fiz sobre o show do Ebinho Cardoso e que foi publicado hoje no Diário de Cuiabá:
O contrabaixo elétrico é um instrumento que faz parte da chamada “cozinha” na música, certo? Não para Ebinho Cardoso. Esse músico mato-grossense, de 31 anos, aparência esguia e dedos igualmente esguios, vem revolucionando o uso do contrabaixo na cena musical brasileira.
Na última terça-feira, Ebinho brindou seu público fiel com um recital impecável na Sala de Cinema do Sesc Arsenal, em Cuiabá. O show de lançamento do CD “No rastro dos ruídos remotos das rodas da infância” foi realizado num auditório com poucos lugares, a pedido do próprio músico, segundo sua mulher, Rejane de Musis, pois ele queria uma coisa mais intimista. Acabou sendo obrigado a fazer duas sessões para atender às pessoas que foram ao Sesc Arsenal movidas pelo desejo de compartilhar esse momento ímpar na carreira do contrabaixista e compositor.
O show foi a cara do Ebinho. Sozinho no palco, sua voz suave e o jeito meigo de contar as histórias por trás das músicas (suas e de outros compositores, como Tom Jobim) faziam com que o espectador torcesse para que os minutos passassem o mais lentamente possível para estender o prazer de ouvi-lo. Em suas mãos, o contrabaixo se transforma num instrumento solo, embora os recursos eletrônicos permitam ao músico reproduzir no palco voz, bases, transformando sua presença solitária num conjunto que teve lugar até para o som de uma cuíca.
Em alguns momentos ele convida a platéia a participar com voz e acabamos sendo agentes de um quebra-cabeça musical saboroso. A empatia com o público é total apesar da aparente timidez de Ebinho, que rende tributo a algumas de suas influências musicais como o mineiro Beto Guedes (de quem canta “Amor de índio”, aquela que diz “Tudo que move é sagrado”) e o fluminense Egberto Gismonti (cuja semelhança no jeito de vestir é notável).
O húngaro Ian Guest, músico, professor de harmonia, arranjo e composição, radicado hoje em Mariana (MG), que fez a cabeça de uma legião de músicos com o Método Kodaly de Musicalização, é o grande homenageado da noite com a apresentação da música “No rastro dos ruídos remotos das rodas da infância”, de sua autoria, que dá título ao CD.
Outro destaque foi a música “Ruanda”, que Ebinho contou ter composto numa madrugada de muita angústia depois de assistir ao DVD do filme “Hotel Ruanda” com a mulher e filhos (o filme conta a história real de um africano que conseguiu salvar 1268 pessoas de um genocídio em Ruanda, em 1994)
E assim o público vai conhecendo um pouco mais da intimidade desse músico empreendedor (é criador da Semana da Música, que traz a Cuiabá uma vez por ano instrumentistas consagrados como o também contrabaixista Celso Pixinga) e vai descobrindo a essencialidade de sua relação com a música. Talvez seja tudo isso que faça de Ebinho um artista tão especial, que está ganhando cada vez mais reconhecimento fora de Mato Grosso.
Ah, os interessados em comprar o CD podem procurar Rejane de Musis (fone: 9251.7433).


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