segunda-feira, 20 de outubro de 2008

Eloá e Lindemberg

Hoje de manhã pensei em tantos assuntos que gostaria de comentar neste espaço que, de repente, deu um branco. Mas não posso fugir do mais óbvio de todos: o seqüestro de Santo André. Longe de mim querer tirar casquinha de um assunto tão dramático, mas gostaria de acrescentar à discussão sobre "quem é o culpado pelo desfecho trágico" algumas coisas que li aqui e acolá e me pareceram interessantes:
1- O cineasta José Padilha, autor do documentário sobre o seqüestro do ônibus 173 no Rio, e o ex-capitão do Bope, Rodrigo Pimentel, autor do livro "Tropa de Elite", escreveram artigos, segundo o blog oFiltro, em que culpam os políticos por tragédias como a de Santo André e e do Rio, por não colocarem em prática planos de segurança idealizados e engavetados. Ou seja, é aquela história que sempre ocorre por trás das rebeliões sangrentas em presídios: promete-se um mundo de recursos para melhorar as condições nos chamados "barris de pólvora" que só são lembrados enquanto dura a comoção pública.
2- Há uma discussão em curso sobre o papel da mídia sensacionalista. Que me perdoem os coleguinhas jornalistas, mas detesto esse tipo de mídia que, no fundo, adora ver o circo pegar fogo e alimenta a loucura das pessoas. Enquanto estava no apartamento do hotel em Uberaba e buscava um canal de TV, sintonizei numa emissora local que mostrava um bando de gente - adultos, adolescentes, crianças - em torno de um corpo no chão coberto por um plástico. Tive uma boa imagem da miséria humana: os adolescentes acenavam para câmera, davam sorrisos. Que tipo de pessoa fica parada em frente a um defunto e ainda consegue sorrir? Isso demonstra a falta do que fazer de muita gente e a indiferença que tomou conta de muitos diante de uma cena que, para eles, certamente se tornou banal: um ser humano morto.
3- Que tipo de relação tinha Eloá com Lindemberg? Ela namorava o sujeito desde 12 anos. Embora fosse considerado do bem pela vizinhança, há relato de muitas cenas de ciúme da parte do rapaz. Imagino que Eloá fosse ameaçada e talvez até agredida pelo ex-namorado e talvez nem relatasse o fato aos pais e amigos por vergonha ou até por achar que fosse normal. Outra dúvida: será que em nenhum momento do tempo em que durou o seqüestro, Lindemberg dormiu ou cochilou? Por que Ellá e sua colega não se aproveitaram disso para fugir? Elas estavam amarradas?
Enfim, são muitas perguntas e nenhum lógica para um acontecimento que tem a dimensão de uma tragédia e, por isso, deveria nos trazer muitos ensinamentos, como as tragédias de grandes dramaturgos do passado. É impressionante e muito triste como a realidade tem sempre nos surpreendido com a sua dramaticidade. Quando a gente imagina que já viu de tudo - criança arrastada por assaltantes, diretores de presído e juízes assassinados à luz do dia, só para citar casos mais notórios - vem uma coisa nova para nos alertar sobre quão frágil é a linha entre a sanidade e a loucura.

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