sexta-feira, 21 de junho de 2013

O que queremos fazer com a força que vem das ruas?


Ontem fui alguém na multidão que se formou em Cuiabá para protestar contra a corrupção, a aprovação da PEC 37, o fim dos privilégios de políticos, etc, etc, etc, e a favor de mais verbas para a saúde, educação, etc, etc, etc. 
Vejo muitos pontos positivos em tudo que está acontecendo, entre eles, a sensação de que juntos somos uma força. A questão é: o que queremos fazer com essa força? Não vou nem abordar os acontecimentos de outras cidades e, principalmente, de São Paulo, Rio e Brasília, e sim falar do que vi ontem em Cuiabá.
Foi fantástica a força mobilizadora de colocar 40 mil, 60 mil, 100 mil pessoas (li vários números na mídia local) nas principais vias públicas da capital durante mais de quatro horas. Foi bonita a festa? Foi, mas, caminhando pela avenida do CPA em meio a milhares de jovens (durante um bom tempo achei que eu era a única cinquentona do pedaço), senti falta de uma certa organização nem que fosse na emissão de palavras de ordem.
Na maior parte do tempo, vi as pessoas simplesmente passando e mostrando seus cartazes com os dizeres mais variados. 
Nosso grupo foi até a Assembleia Legislativa (supostamente o ponto de chegada da manifestação), mas lá também fiquei decepcionada: nada de discursos ou qualquer manifestação conjunta.
Quando pensei em deixar o meu grupo e ir embora, houve um princípio de correria, provavelmente motivado pela explosão de uma bomba, que teria ferido uma manifestante (acabei de ler isso em http://www.midianews.com.br/conteudo.php?sid=3&cid=163241), ou pelo fogo que alguns manifestantes atearam a uma caçamba de lixo no local.
Fiquei muito assustada na hora porque vi que sou um desastre para correr em momentos de quase pânico e minha sorte foi ter ao lado uma amiga do trabalho e sua irmã (que conheci ontem), que me cercaram com carinho filial. Se não fosse por isso, acho que teria tropeçado. Fiquei ainda mais a fim de embora por sentir que minha presença no local era inútil, mas esperei todo o grupo decidir partir para não ficar sozinha. No caminho de volta, encontrei minha filha e uma amiga, que tinham se desgarrado de seu grupo, e fomos todos para a casa da irmã da minha amiga até que o trânsito se normalizasse.
No caminho, muito barulho de motos e vários motoqueiros passando em alta velocidade na contramão, inclusive nas calçadas, o que me fez pensar que temos muito a caminhar em direção a essa sociedade sem violência e menos egoísta. 
Não se iludam, o povo tem sua força, mas a grande mudança passa pela mudança pessoal, o deixar de lado o egoísmo, a ganância, pelo bem comum, por uma atitude mais respeitosa e menos preconceituosa com o outro. Não são apenas os políticos os sem ética e corruptos. 
Há muita incoerência nessas manifestações (gente que vibrou com a aprovação de Cuiabá como subsede da Copa e agora se revolta contra essa escolha) e muitos rebeldes sem causa ou com múltiplas causas. Não acho que nos faltem causas para protestar e, por isso, acho que essas manifestações, esse despertar são bem-vindos, mas fiquei aliviada quando li a notícia de que o Movimento Passe Livre decidiu interromper a escalada de protestos. Outro dia, ouvi uma das líderes do movimento dizer que eles agora iam lutar pela reforma agrária ... A questão não é a causa, mas a pertinência da causa numa sociedade como São Paulo, tão cheia de problemas bem mais tangíveis e com mais chances de serem solucionados. 
Na minha opinião, não podemos simplesmente continuar indo para as ruas infinitamente, fazer manifestação pela manifestação, como se fôssemos a um shopping ou a uma micareta. Mudar o mundo exige grandes mudanças pessoais. Até que ponto estamos dispostos a isso?

Um comentário:

Dete disse...

Oi Martha,
Olhando tudo aqui de longe e sem entender completamente os problemas, é claro que acho as manifestações mais do que válidas e estaria na rua participando delas se ainda morasse aí. Parece que já deram algum resultado, com a mudança das tarifas e o discurso da Dilma prometendo mais verbas à educação e à saúde. Só fico pensando se depois de tanta despesa com estádios, os turistas estrangeiros ainda irão ao Brasil para a Copa do Mundo ou se ficarão com medo de um país em turbilhão.