terça-feira, 27 de setembro de 2011

Ser jornalista

Hoje estive pensando: o que faz de uma pessoa jornalista? Antigamente, bem antigamente, que eu saiba, era o fato de trabalhar num jornal ou em algum tipo de publicação que cumpria a função de transmitir notícias e/ou ideias de forma periódica.
Quando dei aulas de História da Imprensa no Brasil no curso de Comunicação Social na UFMT, descobri jornalistas incríveis que, num passado não muito distante, publicavam seus próprios "jornais" na marra e escreviam com suas publicações a história da imprensa nacional. Alguns jornalistas eram escritores famosos e outros se tornaram escritores famosos (como Euclides da Cunha)
No final do século XIX, foram surgindo jornais mais estruturados que, com o tempo, tornaram-se verdadeiras empresas. Persistia a ideia do dono do jornal como alguém que gostava de escrever e cheguei a conhecer  - e trabalhar em jornais - com esse perfil: O Globo de  Roberto Marinho, Ultima Hora de Samuel Wainer e Tribuna da Imprensa de Hélio Fernandes.
Nessa época (anos 70 e 80) já eram grandes os embates entre empregados e patrões, mesmo que eles gostassem de ser chamados de companheiros. O jornalismo perdia aos poucos o romantismo dos primeiros tempos e os jornalistas, aqueles que eram assalariados, lutavam por uma carga horária mais justa, pagamento de horas extras e outros direitos trabalhistas, embora enfrentassem uma realidade em que vigorava a máxima de que jornalista que se preza tem hora para chegar, mas não tem hora para sair.
Passei praticamente 12 anos afastada do jornalismo (devido a uma mudança de Estado e estilo de vida). Muita coisa mudou nesse meio tempo. As condições de trabalho nas redações pioraram muito em vários aspectos e hoje quase todo mundo sonha com uma assessoria para se sustentar.
Com o advento da internet, ficou mais "fácil" fazer jornalismo e o fim da exigência do diploma (definida pelo STF) desvalorizou ainda mais essa profissão em termos financeiros. Entramos na era do ctrl c/ctrl v.
Hoje, há inúmeros sites, blogs (como este), revistas e o jornal impresso luta para sobreviver e pela atenção de leitores e patrocinadores. Acaba, na maioria dos casos, principalmente, nas cidades de menor porte, na dependência absoluta do poder público, com tudo que isso implica.
Não é minha proposta aqui fazer um artigo sobre o tema. Diga-se, de passagem, que pretendo fazê-lo. Na verdade, só dei tratos às bolas para uma pergunta que me acossou pela manhã: o que define um jornalista?
É o fato de dominar técnicas para transmitir bem uma notícia e contextualizar os acontecimentos? É o fato de trabalhar efetivamente (e depender disso para viver) na redação de uma empresa jornalística? É o fato de publicar artigos, crönicas rotineiramente em  jornais, revistas e sites?
Não pretendo dar uma resposta definitiva a essa pergunta agora, mas vou continuar pensando sobre o assunto.
Sou jornalista. Trabalho como jornalista num jornal diário, numa revista semestral e numa editora, onde atuo como jornalista (fazendo assessoria) e também como escritora. Também faço um bico como jornalista para uma sociedade médica (editando seu boletim). Gosto da minha profissáo, mas ando tão em crise com ela ...

4 comentários:

Marcia disse...

Martha, esse seu sentimento é comum entre vários amigos e colegas jornalistas com quem tenho conversado ultimamente. Eu já me senti assim. As vezes ainda sinto falta de "estar em atividade" mas agora, depois de sete anos, estou tranquila com a minha escolha. Ser jornalista, atualmente, tem mais a ver com status do que qualquer outra coisa. Note que nao estou generalizando, mas já via isso na faculdade, nos idos de 1996. Aparecer na TV era o desejo da maioria, nao importava para que. Continuo vendo isso cada vez que ligo a TV ou leio jornal. Textos mal escritos, tendenciosos (mas aí sabemos o porque), que nao informam .
Eu adorava trabalhar no DC (o único jornal para o qual trabalhei em Cuiabá) mas preferia assessoria de imprensa. Pelo menos voce é pago para ser tendencioso, voce faz isso sabendo que é pra isso que existe assessor de imprensa.
Claro que a questao salarial ajuda no "desencantamento" de qualquer profissao, principalmente em Cuiabá onde a maioria dos veículos nao paga salário em dia. Pena mesmo é ver uma profissao tao importante, ser tao desvalorizada. Eu sempre admirei seu trabalho. Voce é uma jornalista de fato! Questionar é sempre saudável! Pra frente é que se anda!
Abraco!!!!
Marcia

Eduardo Lara Resende disse...

Ótimo questionamento. Como V., tbem sou jornalista, iniciado na profissão há mais de quatro décadas, na Última Hora. Passei por jornalões, assessorias, agências de publicidade, emissora de TV. Hoje não escrevo a não ser como ghost ou no blog. E tenho registro profissional. Percorri a estrada, e se aparecer oportunidade alguma, ainda sou capaz de botar o pé nela de novo... :) Bj.

Terezinha Costa disse...

Boa pergunta, Martha. E dolorosa. É triste que profissionais com décadas de estrada nas costas cheguem à maturidade sem saberem bem o que são.
Quando eu era mais jovem, achava (e não era a única a pensar assim) que ser jornalista era ter um olhar inquisitivo e crítico sobre a realidade e expressá-lo num veículo - que, então, chamávamos "de imprensa" - com o objetivo de influenciar pessoas para que refgletissem e agissem sobre a realidade. Portanto, quando mais influente o tal veículo, mais importante seria o jornalista. Hoje, acho que essa era uma visão ingênua e um tiro no pé dos jornalistas que acreditavam/acreditam nela.
Para começar, a noção de que a "importância" do jornalista depende da "importância" do veículo em que ele trabalha já nos desqualifica como profissionais e como pessoas. Se aceitamos essa noção, a perda relativa de "importância" da mídia em geral (por causa das novas tecnologias, crise de gestão na imprensa tradicional etc) nos obriga a contemplar nossa nova situação de "desimportância" como profissionais e como pessoas.
O único jeito de escapar disso é rever a noção do que consideramos ser um jornalista. Por isso sua chamada à reflexão é tão oportuna.
Eu não sei a resposta. A única coisa que sei é que, se ser jornalista é construir produtos de entretenimento disfarçados de produtos de informação e reflexão, então eu não sou jornalista, nem quero ser. Eu continuo querendo influenciar pessoas para que pensem e ajam sobre a realidade.

Martha disse...

Uau! Como esse post está provocando reflexões interessantes!
Fico feliz de estar cumprindo minha sina de jornalista neste espaço, embora continue com meus questionamentos vida afora. Obrigada a todos que contribuíram para essa reflexão até agora!