terça-feira, 13 de setembro de 2011

Chapada in Jazz

Só para fazer inveja aos leitores que não moram em Cuiabá, publico aqui a resenha que fiz sobre uma noite do Chapada in Jazz (veiculada hoje no Diário de Cuiabá).
As fotos foram cedidas por Rai Reis.

Leo Gandelman
Antes de tudo quero deixar bem claro que meu propósito não é fazer uma crítica ao Chapada in Jazz, que aconteceu em Chapada dos Guimarães, no último fim de semana. Até porque só tive condições de estar presente a uma noite do evento. Quero apenas como repórter (de folga) transmitir algumas impressões sobre o festival para quem não teve o prazer de acompanhá-lo.

Sou apaixonada por jazz e tive o privilégio de acompanhar as primeiras edições do Free Jazz Festival como repórter da revista Veja nos anos 80. Mesmo assim tenho dificuldades para definir o que é jazz. Precisa? O que posso dizer, de coração, é que jazz é magia e não é qualquer um que faz esse tipo de música: é preciso muito conhecimento para acompanhar o ritmo dos outros músicos no palco (o jazz é coletivo, por essência) e para comandar a banda, considerando que geralmente há um líder no palco.

Por outro lado, é uma música que qualquer um pode ouvir, desde que o ouvinte relaxe e se entregue à energia do som que está rolando. Foi isso que aconteceu na noite de sábado em Chapada dos Guimarães. O palco foi armado de costas para a praça, na confluência da rua dos Restaurantes e do calçadão Quinco Caldas. O público se instalou (meio apertado) nas mesas colocadas em frente ao palco e nas laterais da rua dos Restaurantes ( só ali era possível ter acesso ao serviço dos bares). Encontrei gente conhecida nos restaurantes que ficou por lá por não ter conseguido lugar perto do palco.

Sem considerar esses detalhes – afinal, meu objetivo era ouvir música – eu diria que foi uma noite memorável e aproveito para parabenizar o músico Ebinho Cardoso e Viviene Lozi, respectivamente, curador e produtora executiva do festival. O clima estava perfeito e a lua majestosa. Quer ambiente melhor para ouvir jazz? Só faltou alguém entoar “There`s a moon over Bourbon Street tonight...”

O primeiro grupo a se apresentar foi uma rapaziada muito nova de Brasília. Pedro Martins, o band leader, tem apenas 18 anos e acaba de lançar seu primeiro CD autoral, “Sonhando Alto” (Selo Brasiliano). Com seu quinteto e seu jeito de menino, ele apresentou uma meia dúzia de temas e impressionou o público demonstrando sensibilidade para a composição e muita habilidade na guitarra. Parecia tomado por alguma divindade da música no palco!

APOTEOSE

A atração seguinte foi o saxofonista Leo Gandelman. A qualidade de seu sopro é indiscutível e Gandelman deu um show de simpatia e descontração no palco. Mesclou temas mais antigos de sua autoria, como “Solar” e “Furuvududé” (ambos em parceria com William Magalhães), com músicas inéditas, convidou a platéia a “viajar” olhando a lua e ouvindo o tema “Luz Azul”. Deixou clara sua preferência futebolística, tocando alguns acordes do hino do Botafogo como música incidental e apresentando um tema composto em homenagem ao ponta-direita Jairzinho (ídolo do alvinegro na década de 70 e da Seleção Canarinho), em parceira com o pianista David Feldman.

Aliás, o entrosamento com os músicos – David, o baixista André Vasconcellos e o baterista Alex Buck – foi incrível. “A música é um grande prazer – corporal, espiritual. Quando o lance é legal é um prazer total”, afirmou Gandelman ao final de sua apoteótica apresentação, encerrada com “Maracatu Atômico” (Nélson Jacobina e Jorge Mautner) . Muito à vontade, Gandelman desceu à rua com seu saxofone e passeou entre a plateia, convidando algumas pessoas para cantar a frase mais conhecida da música: “Manamaê Ô”.

O público se entregou totalmente à performance do grupo, mas quando o guitarrista Filó Machado subiu ao palco, quase à meia noite, havia ainda muito energia. Natural de Ribeirão Preto (SP), Filó é daqueles caras que exala musicalidade por todos os poros e que certamente é mais valorizado no Japão, nos EUA e na Europa do que no Brasil. Ele surpreendeu o público do Chapada in Jazz com uma apresentação onde a voz foi um instrumento ao lado da guitarra, da bateria, do baixo, etc.

Interpretando muitas canções populares, como “Encontros e Despedidas”, “Flor de Liz”, “Maracangalha” e “Mais que nada”, e outras menos conhecidas (como parcerias suas com Djavan e Jorge Vercilo), Filó conquistou os mato-grossenses com seu talento e sua emoção, que transpareceu na forma como contava algumas histórias entre uma música e outra. Com domínio total da voz e um timbre, que ora lembrava Milton Nascimento, ora o próprio parceiro Djavan, ele comandou a plateia numa brincadeira em que convidava todos a reproduzirem uma frase musical, que ia se complicando aos poucos em termos de ritmo e notas até que nós, simples mortais, não dávamos conta de acompanhá-lo. Foi uma apresentação maravilhosa de um artista que começou a tocar profissionalmente aos 10 anos e hoje está com 61 anos! Que venha logo a terceira edição do Chapada in Jazz...

Filó Machado


3 comentários:

Anônimo disse...

Vim para te agradecer e me deparei com essa postagem deliciosa. Adoro Leo Gandelman, nunca pude vê-lo tocar. Deu invejinha sim de não estar aí em Cuiabá para apreciar esse festival. Abraços, Martha e mais uma vez obrigado pela amizade.

Martha disse...

Uma amizade bloguiana, né?
Novos tempos!
Não tem que agradecer. Fique firme! Um abraço.

Anônimo disse...

Martha, se quiser transformar numa amizade facebookiana (rs) me adicione. Procure por Celso Horikawa. Bj