sexta-feira, 23 de setembro de 2011

Barbárie



Toni Bernardo da Silva, 27 anos,  veio para Cuiabá estudar economia na UFMT há cinco anos, pelo Programa Estudante Convênio de Graduação (PECG).
Hoje, está morto, à espera dos trâmites burocráticos que talvez permitam que seja enterrado em sua terra natal, a Guiné-Bissau.
É claro que não tenho como contar cada pormenor dos anos vividos na capital mato-grossense. Dizem que abandonou o curso por conta do uso de drogas e que tem quatro passagens pela polícia, por tentativa de furto, pertubação da ordem pública e ameaça
Porém nada justifica a forma covarde e brutal como foi assassinado na noite de ontem numa pizzaria super simpática do bairro Boa Esperança, próximo ao campus da UFMT.
Testemunhas citadas no noticiário dizem que ele pedia dinheiro no local e teria abordado a namorada de um de seus agressores. Outros relatos dizem que ele escorregou e acabou esbarrando na tal namorada.
O fato é que o incidente acabou provocando uma enxurrada de socos e pontapés do tal namorado, um empresário filho de um policial aposentado, e dois PMs que estavam de folga e à paisana. Três homens agrediram Toni, que, segundo laudo do IML, morreu por asfixia causada por lesão na traqueia.
Uma de minhas irmãs disse que falo muito de casos de polícia aqui. Mas não posso me omitir diante de mais um caso tão absurdo, que escancara a brutalidade de uma parte da sociedade em que vivemos. 
O fato tem que ser apurado e  os responsáveis não podem ficar impunes, mas isso não é suficiente para evitar novas cenas de barbárie.
Nem sei o que dizer ... Lamento profundamente a morte desse rapaz, defendo a punição exemplar dos envolvidos e me manifesto em favor de uma cultura de paz, que parece uma utopia, mas a gente tem que acreditar nela se quiser sobreviver nesse mundo.

5 comentários:

Osvaldo Tancredo disse...

Vejo dois fatos que me incomadaram aí:
1. o nível de agressão (covardia)
2. polícia envolvida na agressão (provável impunidade)
Se é ligado à polícia ou à política é impune. Esta é uma regra que devemos banir através de alertas como este seu.

Anônimo disse...

Quando vi a notícia pensei: a Martha vai abordar esse crime. Dito e feito, não há como ignorar essa violência que se disfarça de defesa da honra, como se a honra de alguém justificasse a morte de outro. Eram três. Bastaria um ter o bom senso e apaziguar. Mas não, pelo contrário, insuflados, foram covardes e massacraram um ser humano. Também trago em mim a esperança de que a bondade suplante a maldade. Penso que seja até uma questão de sobrevivência da espécie humana.

Eduardo Lara Resende disse...

Parabéns, Martha! Tenho escrito sobre isto - a bárbarie, que a besta que mal acalentamos em nós patrocina. Logo publicarei novamente sobre o tema. Grande abraço.

Sérgio de Oliveira disse...

Me preocupam as preliminares da notícia, que vão relativizando a fato em si: deixou o curso, era drogado, pedia dinheiro, passou a mão na namorada do outro, e a foto é de um negro. O fato é que uma pessoa foi brutalmente assassinada por pelo menos dois agentes do estado pagos para defender a vida. Não foi legítima defesa.

Martha disse...

A defesa dos dois PMs acusados tem a cara de pau de dizer que "eles usaram força moderada" (Diário de Cuiabá).
Se a sociedade não se mobilizar e as entidades que se dizem defensoras dos direitos humanos não se envolverem realmente no caso, os agressores ficarão impunes.
Toda hora penso no sofrimento desse rapaz que agora jaz numa gaveta fria do IML à espera de que alguém lhe dê um sepultamento digno e lhe faça justiça.