quarta-feira, 11 de maio de 2011

Abaixo o preconceito!

Preconceito é coisa feia da qual a gente (eu, pelo menos) se envergonha.
Pois bem, anteontem, escrevendo minha resenha sobre o show do Diogo Nogueira para o jornal Diário de Cuiabá (http://www.diariodecuiaba.com.br/), eu me dei conta de quanto fui preconceituosa em termos musicais. Acredito que hoje estou bem mais aberta nesse quesito.
Eu me toquei de quanto tinha preconceito em relação a sambistas como João Nogueira (pai do Diogo), Agepê, Almir Guineto, Roberto Ribeiro. Isso me levava a um desconhecimento enorme sobre a obra desses autores. Hoje, como frequentadora do Chorinho (o bar Choros & Serestas em Cuiabá), eu me emociono com sambas como "Espelho" e "Poder da criação", duas composições de João Nogueira (a última em parceria com Paulo César Pinheiro).
Por que o preconceito? Do que eu gostava nessa época (anos 70/80)?
Eu gostava de Chico Buarque (sou louca por Chico desde que eu tinha 10 anos), Mílton Nascimento, Caetano Veloso, Gilberto Gil, MPB em geral; música instrumental (Gismonti, Hermeto), jazz, música erudita (influência dos meus estudos na Pró-Arte), etc. Mas no meu toca-disco tinha pouco espaço para o samba, essa é a verdade.
Parte da minha geração foi muito influenciada por Chico e outros ícones da esquerda. De certo modo a gente torcia um pouco o nariz para o que era mais popular, o que caía no gosto do povo. Em outras palavras, "éramos a elite" (?)  cultural do país e, com isso, só abríamos espaço para o samba de raiz, que geralmente vinha trazido pelas mãos de um intelectual. Nessa estante, cabiam Carola, Nélson Cavaquinho, Noel Rosa - o pessoal mais antigo e/ou ligado ao morro.
Sambistas de classe média, que tinham um trabalho maravilhoso, como João Nogueira, não eram bem vistos no meu meio cultural, muito influenciado também pelo rock.
Durante minha pesquisa sobre João Nogueira, li que um de seus sambas ("Das duzentas para lá") defendia a ampliação do mar territorial do Brasil para 200 milhas, uma das bandeiras de luta do governo militar e, por isso, segundo o site wikipedia http://pt.wikipedia.org/wiki/Jo%C3%A3o_Nogueira, o compositor acabou sendo vítima de patrulha ideológica.
Eu não me lembro disso, mas talvez isso explique parte do meu preconceito em relação a Nogueira e um certo ostracismo que ele viveu até sua morte em 2000 aos 58 anos.
Hoje, conhecendo melhor a obra de Nogueira (graças a seu filho Diogo), eu lamento essa injustiça e quero aproveitar esse episódio para evitar cometer outros erros semelhantes.
Preconceito em termos culturais é uma atitude burra e avaliar a arte de acordo com a ideologia política do artista (não é o caso do João, ressalto) é sempre perigoso.

Um comentário:

Anônimo disse...

Realmente preconceito musical é muito feio,eu como qualquer mortal tenho minhas referencias, mais já fui do tipo que torcia o nariz pra muita coisa. Hoje sei de uma coisa, existem musicos maravilhosos dentro de cada estilo musical,se gosto que respeitem meus idolos respeito os alheios. Logo mesmo não sendo fã de certos estilos musicais, se alguém diz isso é ótimo eu acabo ouvindo. Mesmo que lá na frente isso não faça meu gosto, vale conhecer...