terça-feira, 5 de outubro de 2010

O grande circo (nada) místico

Ai que preguiça! Recorro a Macunaíma - o personagem fantástico de Mário de Andrade - para resumir minha disposição para falar de um assunto do qual não posso fugir: eleições.
Sei que todo mundo já falou tudo que tinha que ser dito e o que não foi dito jamais será dito, mas tenho que registrar minhas impressões sobre o pleito de domingo, por mais triviais que sejam.
Em primeiro lugar, as ruas de Cuiabá continuam imundas, cheias de santinhos à espera que uma chuva forte os carregue para córregos, rios, cachoeiras e pantanais de Mato Grosso, o que comprova na prática a "grande" preocupação ambiental de nossos candidatos.
Para mim (e boa parte das pessoas que conheço em Mato Grosso), os resultados trouxeram mais decepção que alegria. Satisfação mesmo foi a vitória de Pedro Taques como um dos senadores eleitos. Bela virada! Com todo respeito ao candidato Carlos Abicalil, a vitória do novato Taques (novato na política porque como homem público ele já mostrou muito serviço) mostra que de vez em quando o eleitor tem momentos de lucidez. A derrota de Abicalil e de outras lideranças do PT mostrou que a briga que dilacerou e expôs as vísceras de um partido que parecia promissor em Mato Grosso foi realmente nefasta para seus candidatos. Quanto ao outro candidato ao Senado derrotado, o ex-senador Antero Paes de Barros (PSDB), prefiro nem comentar ...
Não teremos segundo turno para governador, o que lamento, mas, por outro lado, teremos segundo turno para presidente. Os analistas de plantão se dividem em atribuir a mudança no rumo das eleições para presidente à arrancada de Marina e seu PV, aos escândalos envolvendo o nome da candidata Dilma Roussef e todo imbróglio em torno de sua posição sobre a descriminalização do aborto (aliás, parece que o PT vai retroceder nesse sentido, o que é lamentável). Seja como for, ninguém atribui os louros ao candidato José Serra, o que torna praticamente impossível o prognóstico para o segundo turno.
O que mais lamentei, entretanto, foi o resultado das eleições para deputados (Câmara e Assembleia) de Mato Grosso: pouquíssima novidade. Com raras exceções, os reeleitos mostraram pouco trabalho, porém têm poder de fogo, grana para angariar milhares de votos. Eu não me sinto nem um pouco representada.
Ontem a irmã de uma amiga estava arrasada por causa dos resultados das eleições em Mato Grosso. Para ela, serão mais quatro anos de mesmice. Mas a gente não pode se deixar abater por isso e tem que fazer algum trabalho sutil, subterrâneo para mudar o quadro político do estado.
Num país, onde um palhaço é campeão de votos (por deboche, ironia ou total desesperança), o que nos resta fazer? "A única coisa a fazer é tocar um tango argentino", diria o poeta Manuel Bandeira. Eu, particularmente, prefiro um samba bem brasileiro.

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