quarta-feira, 6 de outubro de 2010

Carmen

Acabei de ler "Carmen - Uma Biografia", de Ruy Castro (Companhia das Letras, 2005). O livro tem 555 páginas, que fiz questão de ler (quando gosto de um livro, leio de cabo a rabo).
O livro me deixou saudades, que estou tentando aplacar com a leitura de "Minha fama de mau" - autobiografia de Erasmo Carlos, que ganhei de aniversário de um amigo.
Adoro biografias, autobiografias e se pudesse trabalharia só com isso: fazendo pesquisas, entrevistas para escrever biografias de pessoas famosas e menos famosas, porém com histórias de vida interessantes.
Mas voltando ao ponto de partida: fiquei apaixonada por Carmen Miranda e, para mim, o grande mérito da obra é revelar a artista para as gerações mais novas. Nasci um ano após a morte de Carmen e cresci achando que ela era importante para o Brasil, porém sem a dimensão exata de sua importância como intérprete e artista completa que era.
A parte mais gostosa do livro para mim é exatamente os primeiros anos de vida artística de Carmen, antes dela se tornar uma artista internacional e se radicar nos Estados Unidos. É uma delícia ler sobre o Rio de Janeiro das décadas de 1920 e 30 e constatar o caldeirão de talentos que surgiu no período. É tanta gente boa, tanto compositor de talento, que fico até com medo de citar alguém porque certamente deixarei de fora outros tantos.
Carmen lançou muito desses compositores talentosos e era, sem dúvida, a rainha inconteste da música popular brasileira no período. Seu talento, sua criatividade eram tão grandes que ela acabou sendo levada por um produtor norte-americano e iniciou uma carreira nos EUA - na Broadway, em Hollywood e outros centros irradiadores de sucesso - que até hoje, salvo engano, não foi igualada (em sua dimensão e sucesso financeiro) por nenhum outro artista brasileiro (Carmen nasceu em Portugal, mas era mais brasileiríssima). 
Ao longo de suas 500 e tantas páginas, "Carmen" revela a história por trás da morte prematura da artista (aos 46 anos) e de sua relação complicada com a crítica brasileira, embora tenha sido sempre adorada pelo público de seu país. 
Na verdade, segundo o autor, Carmen foi vítima de uma mistura de soníferos e estimulantes (potencializada pelo álcool), como muitas celebridades contemporâneas, como Judy Garland e Marilyn Monroe, para citar apenas duas das mais famosas, numa época em que ainda se desconhecia a maior predisposição de certas pessoas à dependência química.
Ela era uma pessoa muito alegre, extrovertida, extremamente generosa e carente, na medida em que, de acordo com o autor, sonhava eternamente com um marido que lhe garantisse os filhos que não chegou a ter. 
Carmen é uma das artistas mais citadas no Brasil (e até imitada), mas penso que poucos conhecem verdadeiramente sua história e o tamanho de seu talento. Ela passou à história por seus colares, balangandãs, turbantes, plataformas, gestos e olhares exagerados, mas foi muito mais do que uma fantasia de baiana. Carmen foi realmente inovadora, ousada, profissional - uma artista completa que merece todo meu respeito. Saravá!
Ah, agora estou doida para ler outros livros de Ruy Castro, especialmente, "Estrela solitária" (a história da Mané Garrincha) e "Chega de saudade".

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