segunda-feira, 20 de setembro de 2010

Escolhas

Ontem, ao final de dois almoços festivos e regados à cerveja bem gelada, tive uma conversa interessante com uma mulher que conheço do Chorinho (o bar Choros & Serestas, em Cuiabá) e com quem nunca troquei mais que sorrisos e beijinhos. A gente conversou sobre escolhas.
Somos quase da mesma idade, temos filhos quase da mesma idade e ela me contou que sempre quis ser funcionária pública. Via sua mãe trabalhando como funcionária pública e achava bonito. Fez alguns concursos e hoje está prestes a se aposentar com uma bela remuneração. Ela me contou que as pessoas lhe perguntam o que vai fazer após aposentadoria. Ela não se inquieta, quer curtir a vida, a casa, a família, fazer ginástica, ter tempo pra jogar conversa fora.
E eu? Aí vem a parte mais difícil deste post. De repente eu me toquei que fiz escolhas tão disparatadas!
Minha mãe, uma pessoa maravilhosa e bem mais velha que eu, não era o meu modelo. Eu não queria me sentir tão sozinha aos 50 e poucos anos, ficar tão dependente afetivamente dos filhos após a perda do companheiro, preparando refeições deliciosas à espera de que alguém viesse almoçar ou jantar comigo. Eu não queria ficar ralhando com as empregadas que nunca faziam o serviço de casa da forma desejada. Eu não queria fazer crochê, nem tricô, queria ter meu trabalho, uma profissão arrojada, cheia de aventuras que me levasse longe do mundo doméstico e me desse dinheiro suficiente para não depender de ninguém.
De repente, jogo tudo para o alto e sigo que exemplo? O da minha mãe. Venho morar em sua terra natal, me casar, ter filhos e brincar de casinha. Estranho, né? 
Porém não consegui seguir exatamente o modelo materno, criei um caminho diferenciado, que acabou me trazendo novamente para o início: ter uma profissão, ser independente, porém, agora, com duas filhas.
Tenho praticamente a idade que minha mãe tinha quando tomei minhas primeiras decisões. E sinceramente acho que fiz tudo pela metade: não fui coerente com o caminho que escolhi, não tive força suficiente para ir fundo na minha decisão inicial e não consegui encontrar o companheiro ideal. Em outras palavras, não sou uma dona de casa perfeita como minha mãe e tampouco consegui minhoa independência financeira. É assim que me sinto, frustrada.
Talvez esse post incomode algumas pessoas, decepcione outras, mas aqui eu me permito ser sincera, olhar num espelho que nem sempre revela o meu melhor ângulo.
A vida está me dando a chance de um novo recomeço, que é doloroso como qualquer recomeço.
Que modelo quero seguir? Será que ainda preciso de modelos?


 

4 comentários:

Dete disse...

Acho que tem pessoas que buscam estabilidade e acabam encontrando uma felicidade calma, sem tempestades nem mudanças. Outras, saem pelo mundo pulando de galho em galho, nunca se contentando em ficar num lugar só. Às vezes tenho inveja dessas pessoas que seguem numa linha reta porque acabam indo mais longe. Mas aí me pergunto se teria sido feliz se não tivesse experimentado todas as reviravoltas da vida que experimentei. Você teria sido feliz se não tivesse tentado nada diferente, se tivesse feito tudo seguindo um “modelo”?

Martha disse...

A resposta é não. Se eu não tivesse feito as minhas escolhas não seria eu.
Mas que às vezes dá vontade de ser outra pessoa e encontrar a tal "felicidade calma, sem tempestades, nem mudanças", ah, isso dá.

Roça de Livros disse...

Martha,
acho que todo mundo fantasia uma vida calma e tranquila, sem sobressaltos. Mas a maioria das pessoas é inteligente demais, inquieta demais, viva demais, para se contentar com esse tipo de vida, se por acaso a encontra. E, pra dizer a verdade, não acredito muito que exista de fato esse tipo de vida. Acho que toda vida, mesmo as aparentemente retas e tranquilas, tem sobressaltos, dúvidas, angústias e alguns momentos de êxtase. Ou não seria vida. Seria?

Martha disse...

É verdade ...
Ai que saudades de vocês, pessoas que entendem minhas angústias e aflições.
Bjs