quinta-feira, 9 de setembro de 2010

Sem rotina

Está sendo muito estranho ficar sem rotina. Meu trabalho como jornalista nunca teve uma rotina rígida, porém fora as semanas em que eu viajava (geralmente, uma vez por mês) posso dizer que estava habituada a uma certa rotina em termos de tempo e lugar.
Com o fim do meu emprego, fiquei meio sem chão. Isso é muito recente e está sendo difícil lidar com essa sensação. Tento me apegar a algumas rotinas mantidas, como, por exemplo, minhas aulas de yoga e meu ensaio do madrigal. Mas, não consegui mais atualizar meu blog no horário de almoço. Hoje e ontem almocei em casa em companhia de minha filha Diana e, como tive compromisso logo depois do almoço, não pude escrever no horário habitual. Não pude fazer a digestão ao blog.
É estranho perder meu trabalho na revista. É como se eu tivesse perdido um pouco da minha identidade e tivesse que me redescobrir. Isso é fascinante e, ao mesmo tempo, assustador. De repente me vejo lidando com fantasmas e feridas antigas, que pareciam superados e cicatrizados. Não estão.
Penso nas pessoas que trabalham anos e anos num lugar e são demitidas de uma hora para outra. Penso num pai de família, numa pessoa que vestiu a camisa da empresa e se vê de repente nu. Deve ser muito difícil superar essa perda.
Aconteceu mais ou menos isso com o marido de uma pessoa de quem gosto muito e até hoje, muitos anos depois da demissão, ele não se recuperou psicologicamente, segundo a mulher.
Salvo engano, eu me lembro de ter vivido essa sensação de perda de um trabalho três vezes: a primeira, quando não fui contratada após um período de estágio no Jornal do Brasil, embora tivesse me esforçado bastante e me saído bem a ponto de ter sido elogiada por um chefe temido por todos; a segunda ocorreu muito anos depois, quando a nova direção do JB resolveu acabar com o recém-criado Caderno de TV e demitiu a pequena equipe do suplemento (eu fazia parte). Fiquei arrasada na época, mas acabei descolando um emprego na sucursal carioca da Veja por sugestão de um amigo e passar pela revista foi um marco na minha vida profissional.
A terceira experiência do gênero ocorreu em Cáceres quando todos os professores substitutos antigos da Unemat (éramos muitos) foram sumariamente dispensados (sem direito a qualquer indenização) porque a reitoria foi "obrigada" a cumprir a legislação estadual, ou seja, só contratar professores substitutos por um período máximo de dois anos e após um teste seletivo. A medida era uma exigência legal, mas foi muito triste a forma como tudo ocorreu: quem servia para dar aula já não servia mais de uma hora para outra. Na época, acabei me redescobrindo na Secretaria Municipal de Turismo e Meio Ambiente de Cáceres, a saudosa Sematur, onde aprendi muito e fiz belas amizades.
Ser dispensado de um trabalho - mesmo quando você não está 100% satisfeita - é doloroso: é como se você fosse obrigado a mergulhar e não sabe quanto tempo vai ter que ficar debaixo d'água. A gente sabe que vai voltar à superfície e respirar novamente, porém isso não evita a angústia.
Todos me dizem que vou conseguir superar isso - mais uma vez.  Eu vou. Já ia me esquecendo de dizer que já descolei um bico como professora de inglês num curso de línguas e estou desenvolvendo meu lado de empresária.

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