Ontem tive uma consulta com uma médica fantástica. Há muito tempo não ficava tão impressionada com uma pessoa. Além de eu ter gostado muito da postura profissional dela e da esperança que ela me deu de encontrar resposta para problemas que me acompanham há tempos, por alguns instantes ela se abriu comigo. Ela recebeu um telefonema (acredito que da filha de uma paciente) e ficou dando instruções para a pessoa. Quando terminou o telefonema, acabou dizendo como é difícil lidar com a questão da doença associada à pobreza. E acrescentou que é uma questão que enfrenta diariamente como médica do SUS. E complementou: o problema não é falta de dinheiro e sim a corrupção. Segundo ela, o SUS, o Detran e tantos outros órgãos públicos têm muito dinheiro, mas essa grana acaba sendo mal aplicada por causa da corrupção. Até aí, morreu Neves. O mais surpreendente foi o que ela disse depois: contou que se questionou e percebeu que também é corrupta. Deu um exemplo concreto: ela não é 100% correta na sua declaração de renda e ainda comentou "tem gente que se orgulha de burlar a faixa verde" (um sistema de estacionamento cobrado pela Prefeitura).
Ou seja, que atire a primeira pedra quem não cometeu alguma forma de corrupção.
Isso me fez pensar muito e, somado à notícia da perda do emprego de uma pessoa amiga, me deixou melancólica. O que ando fazendo da minha vida? O que quero fazer do que resta da minha vida? Não venham me dizer "você é ainda muito jovem" porque não sou. Na melhor das hipóteses, vou viver mais 30 anos com alguma saúde, mas com certeza já passei da metade da minha vida. E então?
Me deu uma vontade enorme de jogar tudo pro alto hoje, pegar minhas filhas pelas mãos, abraçá-las e beijá-las muito, e abrir meu coração com elas. Mas eu preciso me dedicar ao livro que estou escrevendo e que tenho um prazo para entregar. Mesmo assim, vou tirar algumas horinhas pra ficar com elas porque, no final das contas, elas são o que eu tenho de melhor, além da minha família e dos amigos mais queridos.
Aliás, hoje me lembrei com carinho de Lúcia Rito, uma amiga muito querida, cheia de vida, que me ensinou muito numa fase delicada da minha vida, e que já partiu, muito cedo pro meu gosto ... Ainda bem que conseguimos cultivar nossa amizade com muito carinho enquanto foi possível.
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