segunda-feira, 16 de março de 2009

As três Marthas

Até hoje não consegui conciliar – ou melhor, consegui em raras ocasiões – todas as facetas de minha personalidade como mulher.
Tenho dentro de mim uma Martha séria, fechada, até carrancuda, inflexível, porém responsável ao extremo e leal. Tenho outra Martha alegre, bem humorada, que adora dançar e cantar, e gosta de rir, de aventura. Geralmente, quando me envolvo com alguém, é essa Martha (a segunda) que aparece. Mas, como seu aparecimento é meio efêmero, as relações que tive ultimamente também foram efêmeras, porque acho que ninguém vai se interessar (ou melhor, nenhum homem) pela primeira Martha.
No meu primeiro casamento, prevaleceu quase o tempo todo a primeira Martha. No segundo casamento, prevaleceu a segunda (e a terceira), até nascerem as meninas e a primeira, aos poucos, ir tomando conta no cotidiano.
Mas, existe também uma terceira Martha, que é a que gosto mais: espontânea, livre, naturalmente alegre, que aparece só de vez em quando, geralmente quando estou em contato com a natureza ou em viagem. Como fazer para conciliar todas elas dentro de mim? Como não permitir que a Martha séria demais tome conta de tudo?
Uma última constatação: essa primeira Martha tem tudo a ver com o que, eu acho, que minha mãe – e parte da minha família - esperava de mim. Não se trata aqui de culpá-la, afinal ela também foi uma vítima do seu tempo, dos preconceitos que guiam a vida da mulher. Eu já nasci tia, predestinada a uma vida de solteira ou a ser aquela que cuidaria da mãe quando ficasse velhinha. Aprenderia a fazer tricô, crochê e passaria as tardes e noites fazendo companhia à mãe viúva.
Mas eu me insurgi contra esse destino: fiz uma faculdade de jornalismo, que tinha tudo a ver com o meu desejo de romper com as amarras do meu mundinho pequeno burguês. Transgredi outras regras sociais com muito sofrimento interno e sentimento de culpa, porém, nunca consegui me libertar totalmente.
Acabei me casando, tendo filhas e retomando a vida que tinha me sido predestinada. Só que não deu certo. Voltei a trabalhar, transgredi as regras do meu ex-marido (que substituia em alguns aspectos a minha mãe na minha vida) e o casamento terminou.
Hoje, me vejo aqui, volta e meia triste por não ter um companheiro e assoberbada pelas responsabilidades (cuidar da casa, das filhas, pagar contas, etc); volta e meia feliz por poder dançar, cantar, viajar, paquerar, ver os filmes que gosto, ter minhas filhas lindas e poder ainda sonhar com o companheiro dos meus sonhos. Como ele é? Ele é o homem que vai conseguir me amar como sou, e ter a capacidade de perceber as três Marthas e tirar o melhor de cada uma delas.

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