sexta-feira, 17 de janeiro de 2014

Pelas ruas de Amsterdam e Dronten



No dia 1º de janeiro (quarta-feira) eu já estava com o coração um pouco apertado, imaginando a partida para o Brasil no sábado e a despedida de minha filha Marina. Eu procurava aplicar à vida os ensinamentos do yoga: viver aqui e agora, mas confesso que estava difícil. 
Chegamos a Amsterdam no fim da tarde e pegamos o trem para Dronten - a cidade onde Marina está estudando. Era feriado e sabíamos que não teríamos ônibus para nos levar até a casa, mas nesse dia enfrentei com valentia a caminhada de aproximadamente meia hora.
A mala era leve, tinha rodinhas e eu já estava mais habituada ao clima europeu. Mesmo assim, foi duro. 
Uma vez em casa, tomamos banho, comemos alguma coisa, lavamos roupas na máquina e fomos dormir. Como o aquecimento tinha ficado desligado durante nossa ausência, o quarto demorou a esquentar. 
Combinamos de levantar cedo no outro dia para aproveitar Amsterdam, porém perdemos o ônibus por questão de minutos e tivemos que caminhar novamente até a estação de Dronten. Pelo menos, queimamos um pouco das cervejas e guloseimas consumidas nos últimos dias.
Em Amsterdam, fomos direto à Casa de Anne Frank e encontramos uma fila quilométrica. Bem que tentamos comprar ingressos pela internet por sugestão de Carla (mulher de meu sobrinho Leonardo), mas não conseguimos para aquela data ( tivemos sucesso na compra de tickets para o Museu Van Gogh). 
Na dúvida se iríamos encarar a fila (cujo tempo de espera era calculado em duas horas) num clima frio e chuvoso, fomos ficando. A gente ficou logo atrás de uma família brasileira e acabou fazendo amizade com o grupo. O pai, a mãe e o irmão que mora na Holanda desistiram da espera e só ficou um rapaz que morava em Campinas.  Ele explicou que ia deixar Amsterdam no dia seguinte e não queria ir embora sem conhecer a Casa de Anne Frank.
Quase uma hora depois, mudou de ideia diante da informação de uma funcionária da Casa (que nos entregou alguns folhetos) de que por volta das 18h a fila ficava bem menor. Nosso amigo resolveu então partir para o Museu Van Gogh e regressar mais tarde. Espero que tenha sido exitoso em sua estratégia.
A nossa espera foi recompensada. É impossível percorrer a Casa de Anne Frank sem sair de lá comovida com a história da menina judia, cujo diário todo adolescente lê ou deveria ler. Li o livro há décadas e não me lembrava de alguns detalhes da história. 
O que mais me tocou? Sentir como deve ter sido a vida de Anne, sua família e outros judeus confinados na parte superior do estabelecimento comercial de seu pai. Perceber a sua sensibilidade e enorme talento para a escrita (ela dizia que queria ser jornalista quando crescesse e, mais tarde, escritora) e saber que por muito pouco não sobreviveu ao nazismo. Saber que morreu de tifo (assim como sua irmã) num campo de concentração pouco tempo antes dos Aliados vencerem a guerra. Saber que até hoje não se descobriu quem foi o autor da denúncia que levou a polícia nazista até o esconderijo. Ouvir os depoimentos de seu pai Otto Frank, o único sobrevivente do grupo e grande responsável pela publicação do diário e pela transformação da casa em museu (em 1960), é de cortar o coração. 
O museu traz muita informação (manuscritos de Anne, inúmeras edições de seus livros, vídeos sobre campos de concentração e depoimentos) e se torna especialmente interessante por estar instalado no cenário real - na casa onde parte daquela história aconteceu. Tanto eu como Marina saímos de lá determinadas a reler o livro "Diário de Anne Frank".
Fomos recepcionadas à saída da Casa por uma amiga brasileira, Beatriz - ex-aluna no curso de Comunicação Social da UFMT. Ela mora perto de Amsterdam há sete anos e foi nossa cicerone no restante da tarde.
Estávamos todas com fome, mas mesmo assim preferirmos ir caminhando a pé até o Centro, passando pelos canais que caracterizam Amsterdam. Almoçamos no restaurante La Place e eu estava com tanta fome que comi a minha refeição e ainda aceitei metade do sanduíche de Bea, que optou por uma sopa. Que vergonha!


Depois disso, perambulamos pelas ruas em busca de um óleo para cabelos (encomenda de uma amiga muito generosa que me emprestou o casaco, as botas e boa parte das roupas de frio que usei na viagem) e, mais tarde, tomamos cerveja enquanto botávamos a conversa em dia. Passamos por um pequeno supermercado para comprarmos algo para o nosso jantar e o café-da-manhã e seguimos pela rua das Red Lights - que na verdade não é uma rua só.
Para quem não sabe, essa "rua" é aquela das vitrines onde mulheres seminuas se oferecem a quem passa. Eu já tinha estado lá quando era adolescente durante uma excursão à Europa e confesso que fico um pouco constrangida de ver as prostitutas como se fossem animais num jardim zoológico. 
No caminho para a estação central Bea nos mostrou a estátua em homenagem a uma prostituta - provavelmente a única que existe no mundo. Contou que é uma homenagem a uma profissional do sexo  assassinada. 
Nós nos despedimos de Bea na estação e voltamos para "casa". Como já era tarde,  adivinhe o que aconteceu? Tivemos que fazer a pé o percurso até a casa de Marina. Foi estranho caminhar por ruas absurdamente desertas (só encontramos um homem passeando com cachorro que disse "Hi") numa noite fria. Mas também foi gostoso. Perguntei várias vezes à Marina se não havia perigo e ela disse que não.
Em casa, arrumamos as malas já que na noite seguinte dormiríamos em Amsterdam, mas vamos deixar esta última história para amanhã.

Nenhum comentário: