quarta-feira, 8 de janeiro de 2014

Encontros e despedidas


Minha sobrinha Tetê se despede de nós na estação de Villingen-Schwenningen, na Alemanha, sob chuva e neve
Minha viagem à Europa foi um resgate da minha relação com trens. Quando planejamos o roteiro (minha filha Marina e eu), dei força para fazermos a maior parte dos trajetos de trem. Em parte porque sou meio apaixonada por viagens de trem; em parte, porque achava que seria mais seguro andar sobre os trilhos do que voar debaixo de uma neve que imaginei caindo do céu sem parar. 
Não me arrependi de nossa decisão (baseada em preços e não nos meus gostos ou medos pessoais), porém tomei um verdadeiro chá de cadeira de trem. Não sei dizer quantos quilômetros percorremos de trem, mas posso dizer que fomos de Amsterdam a Dronten (a pequena cidade onde Marina mora na Holanda), de Dronten a Saint George (na Alemanha); depois para Praga; em seguida, voltamos para Alemanha por Dresden, e retomamos as viagens de trem depois de um breve trecho de ônibus entre Dresden e Hamburgo na Alemanha.
As estações centrais são impressionantes e parecem cenários de filme, mas os trens estão longe de ter o glamour do Orient Express. As poltronas nem sempre são confortáveis e, tampouco, os banheiros são modelo de limpeza. Diria que as viagens de trem pela Europa me lembraram mais as saudosas viagens nos trens da Noroeste do Brasil, que ligavam o Estado de São Paulo à minha cidade natal, Corumbá (MS).
Exageros à parte, vivemos algumas situações divertidas e/ou tensas (dependendo do ponto de vista) nos trens europeus. 
Viajamos uma noite inteira de Dronten, na Holanda, ao Sul da Alemanha e tivemos que trocar de trem umas quatro ou cinco vezes. Ou seja, impossível dormir com medo de perder a hora de trocar de trem.
Numa dessas trocas, minha filha perguntava ao funcionário da empresa Deutsche Bahn (DB) se aquele trem estava indo na direção que queríamos e ele gritava de volta algo mais ou menos assim em inglês:
- Se você vai pegar esse trem entre imediatamente!
Minha filha me surpreendeu enfrentando o alemão em alto e bom som:
- Preciso saber se ele vai para tal estação!
Confirmada a informação, subimos de forma atrapalhada arrastando malas e mochilas por corredores estreitos em busca de nosso vagão. 
Em outro trecho - entre Praga e Dresden, acredito - nosso lugares eram numa cabine que já parecia lotada quando entramos. Dois casais norte-americanos de uma mesma família tinham usado todo espaço para guardar suas malas imensas. Sorte que eles eram simpáticos e encontraram um lugarzinho para colocar nossas malinhas.  Eles até nos ajudaram a colocá-las no bagageiro.
Mas o episódio mais interessante da nossa viagem sobre trilhos aconteceu no trecho entre o Sul da Alemanha, onde passamos o Natal, e Praga. Depois de uma dessas trocas de trem, entramos num trem com cabines onde não tínhamos lugar reservado. Nas primeiras cabines vi cachorros enormes acomodados no piso e não gostei da ideia de viajar algumas horas com eles. 
Finalmente encontramos uma cabine onde só havia um homem - o mais lindo que vi durante toda nossa viagem. Ele era tcheco, falava inglês e confirmou que o trem seguia para Praga - seu destino final.
Diante da presença de minha filha, controlei minha vontade de tagarelar com o desconhecido. Horas depois, o trem aparentemente chegou a Praga e ele se encaminhou para a saída. Nós duas imediatamente nos preparamos para descer, colocando casacos, luvas e pegando as malas. Nem nos demos conta de que outros passageiros não desceram junto, como seria natural.
Uma vez na plataforma da estação, descobrimos que ali não era a estação central. E nosso trem já estava indo embora. 
Por sorte, nosso belo tcheco devia ser um leitor de Saint Exupéry na infância - "Tu te tornas eternamente responsável por aquilo que cativas" - e se apiedou de nós. Ele nos explicou que ali não era a estação central, porém era uma estação também boa para nós. O desconhecido se ofereceu para nos ajudar e nós, sem outra opção, o seguimos cegamente - com uma pontinha de medo, confesso.
Ele carregou minha mala nas escadas (nem sempre as estações contam com escadas rolantes) e entrou conosco no metrô. Dentro do vagão nos explicou em que estação deveríamos descer e para onde seguir.  Logo depois, desceu.
Fizemos o que ele mandou e quando saímos da estação do metrô, encontramos outro anjo que nos ajudou a localizar a posição exata do hotel com a ajuda da internet de seu celular. Ele também nos acompanhou até a rua e se ofereceu para carregar minha mala. 
O Hotel Musketyr ficava do outro lado da rua. Que alívio! 


Marina em um dos inúmeros trens de nossa viagem

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