quarta-feira, 30 de janeiro de 2013

Santa Maria

Não posso deixar de registrar meu pesar em relação à tragédia de Santa Maria, mesmo que tudo esteja sendo dito em jornais, TVs, rádios, sites e nas mídias sociais. Será que está mesmo?
Muitos amigos meus, dos velhos tempos do bom jornalismo do JB (Jornal do Brasil, para quem não é da época em que o JB dava surra em O Globo em termos de credibilidade e estilo), têm criticado a espetacularização dos fatos relacionados ao incêndio na boite Kiss, que já matou 235 pessoas, causou a internação de 82 pessoas  (até agora) e provocou sintomas de pneumonia química em mais duas dezenas.  Os jornalistas veteranos dizem, por exemplo, que a tragédia nos telejornais da Rede Globo é tratada como um evento a mais em que sobram pieguice e jogo de cena, mas falta o que o telespectador mais quer: informação.
Hoje os jornais dizem que o fogo na boate produziu o mesmo gás usado por nazistas. Desde domingo, tenho pensado nisso: os jovens que não conseguiram sair da boate após o início do incêndio - porque os seguranças barraram sua saída, porque não havia portas de saída suficientes para situações como aquela, por falta de sinalização, etc, etc - provavelmente passaram por um sofrimento semelhante aos judeus que morreram nas câmaras de gás.
Esse pensamento é terrível. Como se fabrica e se permite instalar num local público um tipo de cobertura que provoca esse tipo de gás? A possibilidade de uma pane elétrica é sempre grande num local em que há muitos pontos de iluminação e equipamentos de som ligados.
O sofrimento das vítimas (as que já se foram e as que ainda estão padecendo nos hospitais) deve ser enorme e só posso lamentar por elas.
Quem é pai, mãe ou responsável por um jovem sabe o quanto cada saída para a balada é sofrida. Os riscos são enormes: brigas, tumultos, roubos, assaltos e/ou acidentes na volta para casa, mas se a gente ficar pensando nisso o tempo todo não dorme, não vive. A gente procura alertar os filhos para alguns riscos maiores, mas mesmo assim não consegue sequer imaginar a possibilidade da ocorrência de tragédias como a de Santa Maria, que por mais que encontrem explicações, culpados, continuarão inexplicáveis e extremamente dolorosas para todos que foram tocados diretamente por elas.

PS. Como a maioria dos brasileiros, sou fã do Corpo de Bombeiros, uma instituição sempre elogiada pela bravura e despreendimento de seus integrantes. Mas, lendo há pouco uma matéria sobre os jovens que tentaram loucamente quebrar as paredes da boate Kiss para tentar salvar as pessoas que não tinham tido a mesma sorte que eles (de sair da boate), constatei uma coisa que já tinha me chamado a atneção nas imagens exibidas pela TV: enquanto os rapazes usavam a marreta sem qualquer proteção contra o gás tóxico (muitos acabaram sendo hospitalizados), havia bombeiros  atrás observando o esforço deles. Tudo bem que eles podiam estar desempenhando outras funções, mas por que ninguém forneceu máscara para esses rapazes? Quais foram os passos e atitudes dos bombeiros após sua chegada ao local da tragédia? Será que não se poderia mesmo ter evitado um número tão grande de mortes?

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