segunda-feira, 4 de fevereiro de 2013

Em nome da verdade

Hoje li duas notícias que me remeteram ao passado. Uma delas foi a morte de Fritz Utzeri, um ícone dos áureos tempos do Jornal do Brasil.
Ele já era grande, repórter especial, quando cheguei à charmosa redação do JB no final dos anos 1970.  Todos diziam que era muito inteligente. A sua fama e sua argúcia me intimidavam, não por culpa dele, e por isso, talvez, nunca me aproximei e, tampouco, desfrutei de suas histórias e da sua experiência. Mais um que se foi dessa turma símbolo de um tempo ainda romântico do jornalismo em que o maior sonho de uma foca como eu era chegar um dia a ser uma repórter especial como Fritz.
A outra notícia diz respeito a revelações do relatório do presidente da Comissão Nacional da Verdade, Cláudio Fonteles, de que o ex-deputado Rubens Paiva morreu após ser torturado na prisão, desmentindo assim mais uma vez a versão de fuga sustentada pelo Exército durante bom tempo.
Na verdade, o relatório parte de um ofício que comprova a prisão do parlamentar em casa e ignora a versão mirabolante da fuga (http://www.comissaodaverdade.org.br/noticias/internas/id/1629. Ou seja, pelo que entendi, a Comissão não encontrou registros oficiais da farsa criada pelo próprio Exército para justificar o desaparecimento de Paiva. O relatório cita ainda o depoimento do ex-médico do Exército, Amílcar Lobo, como uma prova de que Paiva teria sido torturado na prisão e morrido em consequência da tortura.
Essa história de Amílcar Lobo veio a público pela primeira através de uma reportagem feita por mim em 1986 e publicada pela revista Veja com grande estardalhaço. O furo de reportagem provocou uma verdadeira comoção na época nos meios militar e civil.
Eu me sinto orgulhosa de ter participado disso e, ao mesmo tempo, fico triste de estar tão afastada desse tipo de cobertura. A minha vida mudou muito e o fato de ter me mudado para Mato Grosso pouco anos depois da reportagem que me colocou tão em evidência fez com que eu me afastasse totalmente do jornalismo com o qual sempre sonhei.
A entrevista com Amílcar Lobo me abriu muitas portas que eu não soube aproveitar. A vida é assim mesmo e ela nos leva a caminhos totalmente inesperados e surpreendentes.
Fico feliz de qualquer maneira pelo fato de a verdade estar vindo à tona. Não vejo por que os crimes cometidos sob o véu da ditadura devam ficar encobertos para sempre em nome de uma democracia conspurcada pela corrupção e a eleição de gente do nível de Renan Calheiros para os mais altos cargos do país.

PS: Para entender melhor as últimas informações sobre o caso Rubens Paiva siga o link:http://www1.folha.uol.com.br/poder/1225945-comissao-tentara-ouvir-militares-no-caso-rubens-paiva.shtml

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