sexta-feira, 4 de janeiro de 2013

Hipocrisia e descaso

Todos os anos, nos meses de janeiro e fevereiro, principalmente, repetem-se as tragédias provocadas pelas enchentes no Brasil, em geral nos Estados do Rio, Santa Catarina, Minas Gerais, São Paulo e outros.
Mas, até que ponto, são tragédias inevitáveis?
Ontem e hoje, assistindo ao noticiário de TV, fiquei com o coração cortado de ver lágrimas, revolta e medo nos depoimentos colhidos em Xerém, município de Duque de Caxias, na Baixada Fluminense, e Teresópolis. Apareceu uma mãe de 10 (!) filhos, dizendo que não tem para aonde ir. Pensei naqueles garotos criados totalmente marginalizados, no sentido literal da palavra, de estar à margem de uma sociedade que tem um mínimo de direitos assegurados (à saúde, à moradia, etc).
Fiquei comovida também com o exemplo do sambista Zeca Pagodinho que, apesar do sucesso, não abandonou suas raízes e a comunidade onde cresceu*.
O que choca é sobretudo o descaso das autoridades: governadores, secretários e prefeitos que não cumprem as promessas de ajuda feita em meio a lágrimas de crocodilo no auge da última tragédia e diante de microfones e holofotes da mídia. Não têm o menor puder de mentir ou será que, como disse o poeta Afonso Romano de Sant'Anna num poema maravilhoso, mentem tanto que até acreditam em suas mentiras?
Há uma semana o jornal O Globo estampava fotos do lixo acumulado nas calçadas de Duque de Caxias. O prefeito que estava saindo não pagou a conta da companhia de limpeza, como aconteceu em tantas cidades brasileiras onde houve troca de prefeito.
Mas também não podemos deixar de mencionar a nossa culpa como habitantes de um País que fala tanto em educação ambiental, sustentabilidade, porém é tão inoperante na destinação dos resíduos sólidos - o lixo nosso de cada dia.
Estive no Rio de Janeiro há poucos dias e fiquei chocada de ver a quantidade de lixo deixada na areia da praia. Antes que os garis venham recolher latas, garrafas, plásticos e cocos, boa parte do lixo já foi levada pelo mar. É lamentável!
Já vi que o governo fluminense já anunciou benesses para as vítimas das chuvas. Será que as pessoas que realmente precisam de ajuda como a família citada acima serão beneficiadas? Duvido.

PS.* Aproveito para fazer um reparo ao meu texto graças à informação de Alexandre Fernandes, blogueiro http://facaamoladafecega.blogspot.com.br/ e ex-colega do Colégio Santo Inácio:
"O Zeca Pagodinho, na verdade o Jessé, cresceu em Del Castilho, passando a infância e a adolescência junto comigo. Ele só foi para Xerém adulto e casado, onde criou seus filhos e morou até pouco tempo. Daí a integração com aquela região e com seus moradores, que o veneram, pela simplicidade e solidariedade desde sempre. É um cara do bem, asseguro."
 

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