quarta-feira, 11 de abril de 2012

Centenário de mamãe

Uau, hoje se minha mãe, Nilzalina Fontes Baptista, estivesse viva, faria 100 anos!
Ainda bem que existe o blog para comemorar essa data e ainda bem que existe Jandira, uma de minhas irmãs, para me lembrar das efemérides da família.
O que dizer sobre minha mãe?
Ela foi uma batalhadora. Aliás, quase todas as mulheres de sua geração foram batalhadoras. Viveram numa época - o início do século XX - em que dar à luz um filho era realmente um parto. E olhe que minha mãe teve muitos: nove ao todo, dos quais sete filhos vingaram.
Meu irmão José Feliciano, o mais velho da turma e hoje já falecido, nasceu num barco, em pleno rio Paraguai, perto do porto de Morrinhos, em 16 de novembro de 1929. Minha mãe era quase uma menina: tinha 17 anos!  Dos muitos que vieram depois, apenas eu, a caçula, a temporã, a raspa de tacho, nasci na Maternidade (que eu saiba).
 Mas não eram só os partos que tornavam essa vida tão difícil e, ao mesmo tempo, fascinante: eram as inúmeras tarefas de uma casa enorme, numa época em que não havia facilidades do mundo atual. Os filhos (na verdade, só tinha meu irmão de homem) saíam para estudar fora, em cidades distantes, geralmente em colégios internos. Havia a dor da separação, as preocupações num tempo em que a telefonia ainda capengava. Ainda mais em Corumbá (hoje Mato Grosso do Sul).
As viagens eram sempre longas e difíceis, e minha mãe morria de medo de avião.
Era uma mulher sábia, embora de pouco estudo. Cozinhava maravilhosamente, fazia crochê, tricô, costurava... E incentivava as filhas mais jovens a estudar, fazer faculdade.
Uma vez minha mãe me confidenciou que tinha vontade de ser jornalista. Acho que foi um momento muito lindo de nossa vida.
Acho que ela foi feliz a seu jeito. Amava seu Júlio Baptista, quase 18 anos mais velho (corrijam-me se eu estiver errada!), amava seus filhos, netos e bisnetos que chegou a conhecer. Nasceu em Cáceres, morou muito tempo em Corumbá e morreu no Rio de Janeiro, para onde a família se mudou em 1958.
Em 16 de outubro de 1986, ela se foi. Serena, de uma forma bem tranquila. Eu queria muito ter estado com ela nesse momento, mas já não morávamos juntas, embora eu procurasse estar perto sempre.
De vez em quando, ia à sua casa e deitava minha cabeça no seu colo. Era tão bom!
Eu tive uma mãe bem mais velha do que a dos meus amigos (ela já era avó quando nasci), mas tive uma mãe maravilhosa, linda, sagaz, que se permitia ser engraçada às vezes e que adorava tomar chope.
Acho que é por isso que todo mundo lá em casa ama tomar chope. O próximo chope que eu tomar será em sua homenagem, minha mãe!
Não sei onde você está, mas se existe céu, paraíso, sinceramente, acho que você merece estar lá.
Nilzalina Fontes Baptista
* 11 de abril de 1912
+ 16 de outubro de 1986

5 comentários:

Dete disse...

Lindo Martha. Sua mae foi quase que uma mae para mim, recebendo-me na sua casa pra morar sem nunca criticar, mesmo qdo eu e minha irma aprontavamos bastante. Ainda a vejo na sala de televisao, fazendo crochet e assistindo ao reporter Esso. Ainda me lembro com carinho do doce de banana tao gostoso que ela sabia fazer. Saudades!

Maria Célia disse...

Gostei muito de ler , e de reavivar minhas lembranças de sua mãe. Minha avó, na minha memória e no meu coração, mesmo que não tivéssemos parentesco biológico.
Me lembro bem de um aniversário que comemorei no Rio, por causa da cirurgia de miopia, dos muitos chopes que tomamos juntas. Claro que eu, mais do que ela.
Eu também, tomarei o próximo chope em homenagem ao seu centenário, na certeza que um dia nos reencontraremos na eternidade.

Antonio Victor disse...

Com esse relato Martha, me vem a Lembrança como muita saudade da minha Vó Nilzalina, como queria voltar no tempo para descer do seu apartamento na Barão do Flamengo e, atendendo prontamente pedido dela, comprar uma cerveja bem gelada, de preferencia Antártica, para tomarmos juntos deliciando com as belas recordações que ela contava dos momentos vividos com seu amado Júlio. Como queria...!

Jane disse...

Oi, Martha
Depois de ler o seu texto tão lindo, seguido dos comentários desses 3 sobrinhos tão queridos, está difícil transmitir com palavras a minha emoção. Talvez mais tarde...
Como seria bom se todos nós que mto amamos essa mãe e avó maravilhosa, pudéssemos nos encontrar hj para juntos tomarmos mtos chopes em sua homenagem e recordarmos os momentos que com ela vivemos. Com certeza, riríamos e choraríamos mto. Bjs.

Martha disse...

Pois é ... Também não sei o que dizer. Apenas bateu uma saudade muito grande de mamãe e da família tão queridas. Simone também falou sobre o desejo de encontrar todo mundo para relembrar esse passado recente. Seria ótimo. De alguma maneira esse encontro aconteceu de forma virtual. Vamos combinar esse encontro especial - e presencial - para outra data.