sexta-feira, 6 de abril de 2012

Chame o ladrão

Cresci em plena ditadura militar e sou de uma geração que teme a polícia, principalmente a militar, sinônimo de arbitrariedade, truculência e violência.
Nos últimos anos, isso (a péssima imagem da polícia no Brasil) mudou um pouco e surgiram até filmes ("Tropa de elite" é o maior exemplo) mostrando um outro lado da polícia: ainda arbitrária, truculenta e violenta, mas com indíviduos do bem, que querem combater o mal, representado no filme  pelo tráfico (no primeiro), pelas milícias (no segundo) e a corrupção (em ambos).
Hoje conheço alguns rapazes que estão na Polícia Militar, inclusive da minha família.
Todo esse preâmbulo é para falar sobre uma situação que vejo se repetir em Cuiabá e que acho muito grave: episódios de violência e arbitrariedade envolvendo PMs de folga.
No ano passado, aconteceu o caso gravíssimo da morte do africano Toni numa pizzaria da capital. O rapaz, que vivia drogado (quanto a isso não há controvérsia), entrou para pedir dinheiro, incomodou frequentadores do local e foi espancado até a morte por dois policiais militares que estavam  acompanhados (o espancamento teve a participação de outro cliente, filho de um policial aposentado). As técnicas aprendidas na PM não seriam suficientes para apenas imobilizar Toni sem matá-lo covardemente?
O caso chocou a sociedade (há poucos dias, houve um evento para marcar seis meses da morte de Toni), falou-se em preconceito de cor, mas até onde sei os acusados não estão presos.
Agora é o caso dos argentinos. Dois irmãos divertiam-se na casa noturna Gerônimo no último fim de semana e foram acusados de terem roubado a bolsa de uma moça com quem um deles tinha dançado. Deram azar porque os acompanhantes da moça eram policiais militares. Foram presos (agora estão soltos graças à intervenção da embaixada argentina), acusados de furto qualificado (sem direito à fiança) e espancados (um deles pode ser visto hoje nos sites www.olhardireto.com.br e www.midianews.com.br sem três dentes inferiores).
Eles alegam que "foi tudo armação". A Polícia Judiciária Civil divulgou nota negando qualquer irregularidade na prisão. O que será que eles consideraram  trabalhar "dentro da ética, transparência e respeito à integridade e inviolabilidade dos direitos constitucionais inerentes às pessoas, sejam nacionais ou estrangeiros residentes ou em trânsito pelo País"?
E a Polícia Militar, não vai se pronunciar?
Esse é o tratamento que Cuiabá dá a turistas estrangeiros.
Só mais um comentário: estranho país este em que assassinos são soltos (como no caso do segurança do banco que matou o dono do restaurante Adriano na frente de várias testemunhas) e "ladrões" (supondo que os argentinos tenham roubado os pertences da moça, o que não acredito que seja verdade) permanecem presos porque o crime é inafiancável.

Leia mais sobre o caso dos argentinos em http://www.hipernoticias.com.br/TNX/conteudo.php?cid=11846&sid=184. Pela primeira vez vi alguém fazer publicamente uma ligação entre esse caso e o do africano morto, como eu fiz.

3 comentários:

Anônimo disse...

Ultimamente nós dois não temos muito a fazer a não ser nos queixarmos, né amiga? É violência, impunidade, egoísmo, uma falta de respeito e amor pelo outro, está difícil ter algo positivo para se escrever, pois estamos todos sofrendo demais com os males da incivilização. Você é do bem, eu tento ser. Que nada disso nos desvie de nossos princípios, porque essa inversão de valores tá osso!

Martha disse...

É isso aí! Às vezes fica difícil não se deixar contaminar pela tristeza e pelo desânimo diante de tanta violência, truculência, imbecilidade.
Mas temos que tentar nos sintonizar com o que há de bom no mundo, né?
Mesmo assim não consigo deixar de me indignar com certas coisas. Ainda bem, né? Não dá para ficar só naquela onde de paz & amor.

Martha disse...

É isso aí! Às vezes fica difícil não se deixar contaminar pela tristeza e pelo desânimo diante de tanta violência, truculência, imbecilidade.
Mas temos que tentar nos sintonizar com o que há de bom no mundo, né?
Mesmo assim não consigo deixar de me indignar com certas coisas. Ainda bem, né? Não dá para ficar só naquela onde de paz & amor.