quinta-feira, 8 de abril de 2010

Tragédias anunciadas

Hoje já escrevi muitos posts na minha cabeça. Todos acabaram superados pelas imagens chocantes das consequências das últimas chuvas no Rio de Janeiro exibidas pelo telejornal Hoje.
Não tenho muito a acrescentar diante da dor daquelas pessoas e do desespero de quem morreu - ou esperou por ajuda - debaixo de lixo, lama e escombros, mas não posso deixar de destacar o que todos insistem em dizer no noticiário: parte dessas tragédias poderia ser evitada. Culpa das autoridades que fazem vista grossa para as construções irregulares? Culpa dos próprios moradores que insistem em permanecer nas áreas de risco? Ou será que muitos fazem isso por falta de opção? Culpa de todos nós que insistimos num modelo de vida irracional atraídos feito moscas para os conglomerados urbanos em busca de "uma vida melhor"?
A tragédia vai passar, os mortos serão enterrados, alguns talvez jamais esquecidos por seus parentes e amigos, porém acabarão se tornando estatísticas no rol das grandes tragédias urbanas motivadas pelas forças da natureza e a teimosia do homem que insiste em acumular lixo, não encontra lugares apropriados para depositar o lixo produzido, constrói casas onde não devia, represa águas onde não podia, desvia cursos de rios, tampa córregos e outras vias de escoamento das águas da chuva sem muito planejamento ou conhecimento de causa.
Hoje Cuiabá comemora 291 anos com um dia ensoralado, de céu absurdamente azul e temperatura agradavelmente amena. De manhã, caminhando pela rua, vi muito lixo derramado na porta de prédios chiques, muitos terreros baldios e calçadas cheias de irregularidades. Pensei se Cuiabá teria tanto a comemorar como apregoam as peças publicitárias da Prefeitura e de empresas comerciais.
No horário de almoço assisti a uma ampla reportagem na TV Centro América sobre a nova operação da Polícia Federal, que inclui desvio de verbas (inclusive, de dinheiro destinado à saúde dos indígenas, a cargo da Funasa, e a obras de saneamento básico no pobre município de Santo Antônio de Leverger, a poucos quilômetros de Cuiabá), oscips supostamente criadas para levar o bem à sociedade (como o Instituto Creatio) e políticos.
Depois li que o projeto de lei Ficha Limpa, que impede a  candidatura de políticos  que respondem a processos, dificilmente será votado antes das próximas eleições. 
A minha diarista agradeceu a Deus pelo fato de Cuiabá ter um dia tão lindo em comparação com a tragédia que se abate sobre o Rio e outros municípios fluminenses. As coisas para ela parecem mais simples. Talvez eu complique demais, mas enquanto as pessoas deixarem nas mãos de Deus o destino de cidades e populações, continuaremos vendo a loucura de recursos públicos desviados ou gastos de forma indevida enquanto se armam cenários propícios para as grandes tragédias urbanas. 

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