quinta-feira, 22 de abril de 2010

Obsessão infantil

Desde pequena sou obcecada por páginas policiais dos jornais. Acho que isso nem Freud explica. Sinto fascínio e terror diante de qualquer imagem com sangue. Não sou do tipo que estica o pescoço quando passa por um desastre, nem gosto daqueles jornais que "derramam sangue" se você expremer, como se usava dizer em relação a publicações populares e sensacionalistas. O que me fascina é a história por trás do crime, acidente ou seja lá o que causou a notíca, o que vai além do lide clássico que só responde as perguntas básicas.
Puxei esse assunto porque desde ontem e anteontem não me saem da cabeça duas notícias que li/ouvi em meio a tantas outras (boas ou más). Uma era a respeito de um vigia morto a facadas e garrafadas num depósito de bebidas em Cuiabá supostamente por ladrões que roubaram garrafas de cerveja. Seu colega o encontrou agonizante no dia seguinte. A outra foi sobre o atropelamento e morte de um ciclista - um frentista de 23 anos - por um motorista alcoolizado. 
Os dois fatos certamente logo serão esquecidos pela mídia e farão parte de estatísticas sobre latrocínios (morte após roubo) e acidentes envolvendo motoristas bêbados. Penso no terror desse vigia diante da brutalidade de seus agressores e na surpresa desse ciclista colhido pelo carro no caminho para o trabalho. Penso, principalmente, na dor de seus parentes e amigos, na dificuldade para tomar as medidas de praxe (liberação do corpo, enterro, um provável processo ou indenização por morte em serviço, etc). 
Por tudo isso cada vez admiro mais o trabalho do jornalista Caco Barcelos e equipe no programa "Profissão Repórter". Nem sempre assisto porque vai ao ar muito tarde, mas acabei vendo a edição da semana passada sobre a enchente no Rio de Janeiro. Foi muito bom e triste, justamente por mostrar como diz a chamada do programa "os bastidores da notícia": o sofrimento da mulher que perdeu o marido num dos deslizamentos de terra, a situação de quem não morreu, nem teve a casa destruída, mas vive permanentemente numa situação de risco e insalubridade total.  Era esse tipo de trabalho que eu sonhava fazer quando decidi ser jornalista.


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