Fiquei me perguntando se eu posso contar aqui a história do Adílson, mesmo que este blog seja um espaço tão íntimo. A forma como ele se abriu comigo e meus colegas de viagem me leva a pensar que ele gostaria que sua história fosse compartilhada, ainda que eu não tenha conhecido todos os detalhes. O fato é que fiquei muito impressionada com o seu relato, sua simpatia e vontade de viver.
Fomos jantar numa lanchonete numa cidade do interior em que Adílson era o garçon. De cara me chamou atenção o fato do único atendente ser um rapaz com problemas de locomoção e um braço atrofiado (o direito). Ele tinha dificuldades para andar e, naturalmente, anotar e trazer os pedidos. Aos poucos, o próprio Adílson foi contando sua história sem que nada lhe perguntássemos.
Ele disse que sofreu um acidente de carro há uns dois anos (no início, entendi que tinha sido de moto), ficou cerca de 60 dias em coma num hospital em Cuiabá e depois mais um tempão na cadeiras de rodas. A sua capacidade de superação e a fisioterapia são responsáveis pelo fato dele estar ali trabalhando e levando a vida adiante.
Contou que já andou a cavalo e, pasmem, ele anda numa moto adaptada. Não quis saber muitos detalhes sobre o acidente, mas tive idéia do tamanho do seu sofrimento. Adílson contou que existe uma cirurgia muito cara que ele poderia fazer no Hospital Sara Kubitchec. Mas o problema, seu irmão me explicou depois, é que há grandes chances de a cirurgia não dar certo e Adílson ficar paraplégico para sempre. Esqueci de contar que seu irmão é o dono da lanchonete e paga meio salário para Adílson ajudá-lo. "Ele se mantém ocupado e não fica pensando bobagem", disse.
Senti que o Adílson tem uma família legal (ele contou que quando ainda estava muito mal sua mãe lhe dava comida na boca e que ela desmaiou quando ele saiu do coma), mas fiquei pesarosa com sua história. Fiquei pensando no quanto ele sofreu, ainda sofre com suas limitações e como será seu futuro. Será que ele vai conseguir ter sua própria família? Eu me senti tão pequena diante de sua vontade de viver, se comunicar e ser aceito. Queria ter podido dar mais para ele... A meu modo, vou procurar rezar por ele.
Mudando de assunto, esta semana um colega meu, jornalista em Cuiabá, morreu de pneumonia aos 38 anos. E, hoje, soube que o irmão da minha funcionária, ex-futuro pintor do meu apartamento, morreu num acidente de moto aos 36 anos. Por que algumas pessoas morrem tão jovens e outros vivem tanto? Acabei de assistir à entrevista de Nayara, a amiga da Eloá, no Fantástico. Achei tão triste: os erros da polícia, o drama de Eloá, a loucura de Lindemberg, o medo de Nayara. Jovens que até outro dia posavam ingenuamente para fotos publicadas no orkut hoje passam por experiências tão dramáticas!
Enfim, a vida é complexa demais para que eu entenda. Algumas pessoas encontram em Deus a explicação para tudo. Ainda não tive essa certeza.
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