terça-feira, 3 de dezembro de 2019

Primeiras impressões de uma segunda viagem à Austrália




Desde que cheguei da Austrália, há duas semanas, venho ensaiando escrever sobre a minha segunda visita a esse país que passou a fazer parte da minha vida, de forma inesperada, quando minha filha Diana resolveu fazer intercâmbio lá em 2014. 
Na verdade, ando preguiçosa, em parte por culpa do jetlag que, acreditem, pega a gente de jeito, por conta da diferença de 13 horas no fuso horário (considerando as cidades de Brisbane, onde ela mora, e Cuiabá, onde eu moro).
Tenho tanto a falar que nem sei por onde começar. Em 2017, quando retornei da primeira vez, dividi meu relato em várias postagens, que comecei a publicar quando ainda estava em viagem. Agora, como só publiquei pequenas postagens nas redes sociais, a dificuldade para começar fica maior.
Estou escrevendo para mim ou para os outros? Essa é a primeira questão. Não sou blogueira de viagem. Meu objetivo maior é registrar percepções, impressões, pequenas alegrias e descobertas, e isso tanto serve para mim (uma forma de organizar minhas lembranças de viagem) quanto para os outros que se interessem pelo assunto.
Feito esse longo nariz de cera (adoro essa expressão), vou escolher um tema para esta primeira postagem: como foi retornar à Austrália? O encanto da primeira viagem permaneceu?
Foi estranho. A primeira visita a Brisbane foi só encantamento. Desta vez, o encantamento foi mais ocasional. 
A cidade continua magnífica e o que mais me encanta lá talvez seja a sensação de segurança.
É muito bom andar nas ruas sem medo de ser assaltada, abordada por outras pessoas, a qualquer hora do dia ou da noite. Uma das primeiras coisas que fiz quando cheguei a Brisbane foi comprar uma mochilinha, que me acompanhou o tempo todo, na praia, nos passeios, de dia, de noite. Nela, eu colocava meu passaporte, celular, uma garrafa de água e um casaquinho (nas primeiras semanas), fora outras coisas de praxe, e seguia sem medo de ser feliz. 

Caminhei muito pelas ruas de Brisbane e de Sydney, cidade que visitamos por três dias e que merece um post à parte. Peguei ônibus sozinha, me perdi, pedi ajuda a pessoas no meio da caminhada ... Fiquei horas num parque público simplesmente lendo e parando de vez em quando para sentir o vento, ouvir o barulho das folhas e dos pássaros. Como tem pássaro em Brisbane! Em nenhum momento, alguém me incomodou, interrompeu meus devaneios ou me pediu alguma coisa. 
Pássaro típico da Austrália passeia muito perto do banco onde eu estava sentada no Botanic Garden

Sinceramente não sei como funciona a economia na Austrália e em Brisbane em particular. A quantidade de imigrantes é imensa. Na maioria das vezes em que usei carro via aplicativo ou táxi, os motoristas eram indianos ou paquistaneses (só houve uma exceção em que o motorista era australiano e aparentava ter algum tipo de deficiência). Você vê pessoas nas ruas de várias nacionalidades e não raro ouve alguém falando Português enquanto espera o sinal abrir. Os australianos também estão por ali e, de vez em quando, você até conhece um. Aparentemente eles não se incomodam com a presença de tantos estrangeiros e têm seus empregos garantidos.
Os ônibus não têm cobradores e os motoristas são até brincalhões. Teve um que disse para mim e para minha filha que tínhamos que pagar uma cerveja para ele porque estávamos fazendo seu ônibus de táxi (ele nos esperou um pouco enquanto caminhávamos até o coletivo).
Quando o passageiro entra e sai passa seu cartão (o GoCard) pela leitora que informa seu saldo. Minha filha disse que em algumas linhas é possível pagar ao motorista em cash (dinheiro vivo). 
Os postos de gasolina não têm frentistas. O próprio motorista abastece seu carro e paga depois no caixa do posto. 
Os caminhões de coleta de lixo são conduzidos por um motorista e têm um mecanismo que "pega" o recipiente na porta das casas e despeja seu conteúdo na caçamba. 
Brisbane é bastante limpa (ao contrário de Sydney, que tem bastante lixo na rua) e há banheiros públicos por toda parte (ruas da City, o centro comercial e financeiro da cidade; praias, parques). E o que é melhor, os banheiros estão sempre limpos e têm papel higiênico disponível!
Ruas e estradas estão cheias de obras, mas até as obras lá parecem organizadas e realizadas de uma forma que não incomoda tanto as pessoas. 
Tem uma coisa que não gosto em Brisbane: estranhamente tem muita barata na rua. Desta vez, como não era alto verão, só vi uma na rua para ser sincera, mas levei alguns sustos na casa em que estava hospedada. São umas baratas gigantes, muito escuras, nojentas, assustadoras. Preciso superar essa fobia antes de retornar à Austrália.
Já me falaram que a Austrália é o Brasil que deu certo. Não sei se a comparação é correta porque há semelhanças entre os dois países, mas certamente há muitas diferenças. A Austrália tem aproximadamente 25 milhões de habitantes numa área de quase 8 milhões de quilômetros quadrados. O Brasil tem 210 milhões de habitantes numa área de 8,5 milhões de quilômetros quadrados! Nossa densidade populacional é de 23,8 habitantes/km2; a da Austrália não chega a 3 hab/km2! O Brasil foi "descoberto" pelos portugueses em 1500, enquanto a Austrália teve a costa leste mapeada pelo inglês James Cook em 1770. 
O fato é que a Austrália - do que conheço pessoalmente e do que ouvi falar por meio da experiência de pessoas que conheci - é um país muito amigável (friendly). Ainda bem! Porque minha filha não pensa em voltar. Quer saber a verdade? Morro de saudades dela (principalmente quando volto de lá) e me pergunto "o que fiz para merecer uma filha morando tão longe", mas admiro demais a coragem dela, a forma como encara e vem vencendo as adversidades, e morro de inveja de sua aventura australiana.  Acho que me realizo através dela.
Marina (de passagem), eu e Diana no meu primeiro dia em Brisbane após mais de 18 horas de voo e outras tantas de aeroporto. /Estamos em New Farm Park, um dos meus locais favoritos na cidade.


3 comentários:

Vera Capilé disse...

Os filhos rompem com nossos medos!!!!
Ainda bem!!!!!
Sucesso pra Diana!
Minha filha Juliana passa por este viés! Vai a Dinamarca como eu a Livramento! Fácil, fácil!!!!!

Antonio Victor disse...

Lindo texto Martha! Deu vontade de conhecer a Austrália!

Lu disse...

Apesar de já ter ouvido parte dos seus relatos por telefone, adorei o texto. Não deu vontade exatamente de visitar a Austrália, mas de morar num lugar como a Austrália, com exceção dos episódios de baratas. Aliás, elas são mortas ou fazem parte do cotidiano?