sábado, 14 de setembro de 2019

Bacurau, o filme


Há uma semana assisti ao filme "Bacurau", de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles. Não sou crítica de cinema e meu objetivo é só registrar e compartilhar sensações e emoções provocadas pelo filme.
Fiquei eletrizada do começo ao fim da exibição e consegui até esquecer a "perda" da chave de casa até os letreiros finais do filme.
Sabe aquela sensação de tensão, que chega a doer o estômago? Quem me conhece sabe que fujo de filmes muito violentos, principalmente daqueles em que a violência é gratuita.  
Em "Bacurau", mais do que as cenas de sangue, o que deixa a gente tensa é o clima que prevalece no filme, tão bem explorado na fotografia, na trilha sonora, nos figurinos e principalmente no desempenho dos atores.
Não há palavras em excesso, os diálogos são poucos e algumas pessoas podem até se queixar da falta de ação na primeira parte do filme, quando tudo parece meio desconectado. Mas, à medida que o filme vai se desenrolando, tudo se encaixa e nós, o público, ficamos eletrizados à espera do grande final. 
As comparações com o último filme de QuentinTarantino ("Era uma vez em Hollywood"), ao qual assisti há duas semanas, são inevitáveis. O filme do celebrado diretor norte-americano também se desenrola num ritmo relativamente lento, em que algumas cenas parecem sem sentido, até o grande final.
Em "Bacurau",  esse final tem um gosto especial para nós brasileiros que assistimos com um misto de horror e incredulidade aos acontecimentos iniciados a partir do anúncio da vitória da presidente Dilma Roussef no segundo turno das eleições de 2016. A sensação de estarmos sendo esmagados por um rolo compressor, um poder maior contra o qual não há como lutar, é bem parecida com o que sente a população do minúsculo povoado de Bacurau.
"Bacurau" é um filme, é ficção, mas nos dá um alento, a sensação de que o povo é capaz de se unir e lutar contra o inimigo, usando a inteligência e as mesmas armas de seus algozes.
Há várias cenas memoráveis no filme, que pretendo assistir novamente, mas não me sai da cabeça uma cena (forte, muito forte) em que invasores estrangeiros discutem em volta de uma mesa com seus aliados brasileiros. Os dois brasileiros alegam que são diferentes da comunidade local de Bacurau por serem de outra região do Brasil e argumentam que, por terem a pele mais clara, são mais parecidos com os gringos. Parecia uma cena de "A Revolução dos Bichos", o clássico de George Orwell. 
Digo a todos que conheço: assista à "Bacurau". O elenco é primoroso, a começar por Sônia Braga, a estrela brasileira que sabe envelhecer e não teme trocar o lugar de sex symbol do passado por o de uma atriz de carne e osso. 
Parece que o filme não está sendo mais exibido nos cinemas convencionais de Cuiabá ou só está em cartaz em horários muito restritos. A boa notícia é que o Cine Teatro Cuiabá vai exibir "Bacurau" e outros filmes dirigidos por Kleber Mendonça Filho a preços módicos no projeto "Encontros de Cinema" nos dias 8 (O Som ao redor), 15 (Aquarius) e 22 de outubro (Bacurau), às 19h30m. Vale a pena ver todos!!!





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