quarta-feira, 17 de setembro de 2014

E ainda há quem ache graça

Ontem fiquei especialmente tocada com dois acontecimentos aparentemente desconexos.
No primeiro, ouvi a conversa de alguns colegas de trabalho relatando fatos trágicos ocorridos em diversas cidades brasileiras: agressões terríveis feitas por namorados a namoradas, ou a assaltantes. O que me chocou foi o fato de saber que eles recebem vídeos mostrando essas agressões e até acham graça. E eles, meus colegas, são pessoas "normais", tipo gente boa que parece incapaz de fazer mal a uma mosca.
Fiquei chocada, mas me calei. Por quê? Medo de não ser compreendida por não entender por que as pessoas se divertem assistindo a vídeos desse tipo. É como se tudo fosse uma grande farsa e o sangue, a dor do outro não fossem reais. 
Eu odeio assistir a brigas (reais ou fictícias), a lutas (de boxe, MMA, etc) e a qualquer tipo de filme ou qualquer espetáculo que tenha a violência como tônica ou fim em si mesmo.
Sei que a violência existe, mas não consigo aceitar que ela seja transformada em espetáculo. Isso me remete aos tempos em que gladiadores lutavam até a morte e cristãos eram devorados por leões no Coliseu romano ou em outros tipos de arena.
Chego a pensar que se tive vidas passadas devo ter sido uma vítima desse tipo de "espetáculo" ou vilã de tal forma que essas coisas mexem comigo. 
E o outro fato? Foi a leitura de uma notícia sobre o relatório feito por um brasileiro, Paulo Sérgio Pinheiro, presidente da Comissão da ONU, sobre a violência na Síria (http://oglobo.globo.com/mundo/violencia-afetou-ate-4-milhoes-na-siria-diz-paulo-sergio-pinheiro-3344107)
Fiquei extremamente chocada com os fatos levantados pelo relatório, como o caso de um jornalista de oposição, preso e torturado pelas forças do governo e depois por representantes do Estado Islâmico. Há também relatos de apedrejamento de mulheres até a morte. 
Como ficar indiferente e insensível a esses fatos? E, ao mesmo tempo, o que fazer para impedi-los? Eu me sinto terrivelmente impotente e resisto à ideia - tão aceita por alguns - de entregar tudo às mãos de Deus ("Deus no comando", dizem) ou de achar graça em tudo isso. 
Na Síria, na África, em Cuiabá ou em qualquer parte do Brasil, a violência me choca e me faz acreditar menos no ser humano. Quero ser positiva, pensar em coisas boas, mas esses fatos e relatos de casos de violência insistem em martelar minha consciência e desafiar meu equilíbrio.

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