domingo, 29 de junho de 2014

Oh Jardineira ...




Minha família é cercada de histórias, que vão sendo contadas de pais para filhos. Algumas se perdem pelo caminho ...
Uma das histórias que sempre me comoveu foi a de que minha irmã Jandira nasceu num dia de carnaval de 1939 (acho que foi numa Terça-feira). 
O carnaval marcado pela marcha "Jardineira".  Aquela que diz:

"Oh Jardineira, por que estás tão triste?
Mas o que foi que te aconteceu?
- Foi a Camélia que caiu do galho, deu dois suspiros e depois morreu."

Contam que meu pai Júlio Baptista estava no baile (no Corumbaense?) quando foi avisado que sua mulher Nilzalina tinha acabado de dar à luz mais um filho.
- Pierrô ou colombina? -  perguntou.
Não sei se tudo isso é verdade, mas escrevo curtindo a história que embalou minha imaginação e ajudou a construir o mito em torno de meu pai.
Mas isso é passado. Só sei que Jandira adorava carnaval quando moça e foi num baile de carnaval que conheceu o seu Manoel. Que eu saiba foi o único e grande amor de sua vida. Tive a honra de ser dama em seu casamento, em 27 de julho de 1963.
Jandira era uma pessoa muito especial como todos que a conheceram sabem. Romântica, delicada, extremamente preocupada, amorosa ao extremo, perfeccionista.  
Uma mulher de fibra. Lutou até ter sua filha única e linda, Luciana, que amava de paixão, mas seu coração era igual coração de mãe: tinha lugar para todos os sobrinhos (devem ser uns mil, contando os sobrinhos de Manoel) e para os netos. 
Ela anotava as datas de aniversário de todos com sua letra miúda e não precisava do Facebook para se lembrar de cada um.
Jandira era firme em suas posições e delicadamente procurava impor suas vontades. Por trás da mulher aparentemente frágil, exista uma mulher super bem informada e de opinião.
Infelizmente, ela tinha baixa autoestima como muitos de nós da Família Baptista. Achava que era pouco instruída e menos interessante que a maioria das pessoas ... Uma bobagem ...
Mas tinha muitos amigas, de longa data, que cultivava como se fossem flores de seu jardim. 
Era uma pessoa que sempre tinha tempo para os outros e eu vou sentir muita falta de seu carinho, de sua atenção.
Foi ela que veio me dar suporte quando nasceu minha filha Diana, em janeiro de 1990. Fez o papel de mãe para mim, que tantas vezes fez na minha infância, me dando banho, me alimentando, me penteando, dividindo as tarefas de mãe com minha irmã Junilza, numa época em que mamãe me parecia distante (é claro que isso mudou depois).
Por isso, perdi uma irmã e uma mãe.
Mas, como diz a marcha que marcou sua vida:

"Vem Jardineira, vem meu amor
Não fiques triste que esse mundo é todo seu
Tu és muito mais bonita que a Camélia que morreu".

Pelo que soube, Jandira foi embora como uma flor ... Que descanse em paz em seu novo jardim e siga seu destino!
A nós, resta o papel de reverenciá-la e estarmos juntos para sempre, mantendo viva a chama de seu amor incondicional.

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