segunda-feira, 12 de maio de 2014

Deboche

Essa foto foi feita por mim no dia 26 de abril numa área nobre de Cuiabá: a Avenida Getúlio Vargas, nossa Champs Elisées

Estou tão irritada com o governador de Mato Grosso, Silval Barbosa, que preciso desabafar.
Está circulando em vários sites de MT uma entrevista que ele deu por ocasião da visita do ministro do Turismo a Cuiabá na semana passada. Entre outras pérolas, o governador compara Cuiabá a Paris dizendo que a população (daqui, é claro) precisa mudar o "conceito cultural" ao olhar para as obras em andamento.


“Lá fora, você viajar e ver obra é algo chique, é coisa de país desenvolvido. Aqui, obra é transtorno. Tem que mudar esse conceito. Quando virem obras aqui, têm que pensar que essa cidade é desenvolvida, pujante, cresce 10% ao ano. É assim que o povo, lá fora, pensa culturalmente. Aqui, parece que atrapalha eu ter quase 70 intervenções (obras)”, disse o governador (www.midianews.com.br)
Para quem não vive o dia a dia de Cuiabá os comentários do governador poderiam até fazer algum sentido, mas para quem conhece o caos instalados na capital mato-grossense e na vizinha Várzea Grande essas palavras soam como deboche.
Nos últimos três anos Cuiabá e Várzea Grande se transformaram num imenso canteiro de obras. A proposta, diziam os administradores, era aproveitar a Copa do Mundo para fazer as obras imprescindíveis à realização de quatro jogos em Cuiabá (da primeira fase) e também outras obras necessárias à capital de um estado em franco crescimento.
O problema é que foram iniciadas várias obras ao mesmo tempo sem qualquer planejamento. Nem vou entrar nos detalhes técnicos que abundam no noticiário regional e sim no lado prático de quem está no meio desse caos. A sinalização dos desvios é precária (aliás, o adjetivo precário é pouco para dimensionar o tamanho dessa precariedade), as obras caminham a passos de tartaruga (muitas não ficarão prontas antes do início dos jogos e a gente sequer sabe se ficarão prontas um dia) e, o que é ainda pior, as que ficam prontas estão sob uma saraivada de críticas devido a problemas que surgem mal são inauguradas. 
Esta lista inclui o Aeroporto Internacional Marechal Rondon e todo o trajeto que liga a cidade de Várzea Grande (onde está localizado) a Cuiabá.
Há poucos dias recebi uma mensagem de um estrangeiro que vai se hospedar em minha casa durante a Copa dizendo que não via a hora de chegar a Cuiabá. Juro que me senti desconfortável. Minha vontade foi lhe dizer: "Não fique tão ansioso para chegar. A cidade está acabada e não sei se eu viria se fosse você". É claro que não disse nada. O cara é adulto e nem tenho intimidade com ele para isso.
Mas, voltando às declarações do governador,  é muita cara de pau do Silval comparar Cuiabá a Paris.


“Lá (em Paris), se você quer ir ao museu, você enfrenta fila. Aqui, vem um e pega uma fila com dois ou três à sua frente e já fica chiando. Isso lá é normal. Se você vai visitar a Torre Eiffell, tem que pegar uma fila do tamanho do mundo. Você vai pegar um transporte público, é aquela fila, aquele transtorno. E é um país que está 1.500 anos na nossa frente”, disse.

Ora, você enfrenta fila para subir a Torre Eiffel se quiser. Eu mesma já fui a Paris três vezes e nunca subi a Torre Eiffel. É uma opção de quem está a fim (e tem tempo) para fazer turismo. Mas você consegue andar Paris inteira (e outras cidades da Europa e dos EUA) usando metrô e outros meios de transporte público. Vai fazer isso em Cuiabá!
Enfim, a comparação é tão sem sentido que só dá raiva. Essa raiva só aumenta quando a gente assiste à propaganda política do PMDB (partido do Silval) falando sobre tudo que fez pela saúde, educação e pelo turismo de Mato Grosso.
Acredite se quiser e quem quiser!

Foto do Diário de Cuiabá, feita há cinco dias, mostra o estado de rotatória próxima à Arena Pantanal

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