segunda-feira, 20 de agosto de 2012

Desde que o samba é samba



Terminei a leitura de um livro que não estava no meu programa. Como assim? Fui trocar o livro que ganhei de uma amiga ("Furacão Elis" que li há décadas e reli com prazer há poucos anos) e acabei seduzida pela capa e o título do novo livro de Paulo Lins, autor de "Cidade de Deus" - o livro que originou o filme homônimo.
Não tinha lido crítica, nem ouvido falar de "Desde que o samba é samba" (Editora Planeta do Brasil), mas resolvi investir, achando que era uma história da origem do samba. Acertei em parte. O livro conta o surgimento de um novo ritmo no Rio de Janeiro no finalzinho dos anos 1920. A história se passa no bairro do Estácio, na zona de baixo meretrício e menciona vários logradouros reais, como os morros de São Carlos e Mangueira.
Confesso que gostei bastante, embora tenha ficado um pouco confusa com os personagens. O autor optou por misturar personagens reais, que chama apenas pelo primeiro nome, como Silva (Ismael Silva), Miranda (Carmen Miranda), Alves (Francisco Alves),  Manuel (Manuel Bandeira) e Mário (Mário de Andrade), com outros fictícios. Criou um triângulo ou quadrado amoroso rocambolesco que é o fio condutor da história, formado pelo capoeira e cafetão Brancura, o português Sodré, a prostituta Valdirene e o jovem Valdemar, que logo sai de cena.
O livro tem passagens confusas e repetitivas, e é muito pesado, abusa da violência, dos palavrões e da linguagem para lá de chula. Não recomendaria sua leitura a minhas irmãs mais velhas, por exemplo. Não é questão de puritanismo, é porque é chocante mesmo.
Mas, no final das contas, ele dá seu recado ao contar como um grupo de compositores do povo criou um ritmo novo, a primeira escola de samba (Deixa falar ...) - fatos que mudariam os rumos da música popular brasileira e da cultura do país.
Gostei muito também dos capítulos que falam sobre o surgimento e a consolidação da macumba no Rio, assim como a ênfase do autor à forma como a polícia (mal) tratava os descendentes de escravos e reprimia suas expressões culturais. A própria escola de samba surgiu como uma tentativa de criar um espaço onde as famílias, o povo mais humilde pudesse brincar, sambar sem risco de ser espancado pela polícia ou entrar em confronto com outras agremiações.
Confesso que fiquei triste quando o livro acabou, o que é um sinal de que conseguimos estabelecer uma cumplicidade legal, porém isso não me impede de ver alguns defeitos na narrativa, que merecia uma costura melhor.
Como sou cada vez mais apaixonada pelo samba, adorei conhecer melhor a história de seu nascimento e do sambista Ismael Silva, hoje tão esquecido.  Aliás pretendo aprender um samba seu para cantar no Chorinho (bar Choros & Serestas).



2 comentários:

Jane disse...

Poxa! Eu sou irmã mais velha, mas, com a leitura do seu post, fiquei com vontade de ler o livro. Não posso? Não devo? Ficarei chocada? E agora? Acho que vou lê-lo escondido... Bjs.

Martha disse...

Pois é assim que funciona com as crianças e adolescentes. Se a gente proíbe, aí mesmo que elas querem conhecer. Vai fundo, mas depois não vai dizer que ficou chocada. Posso até emprestar o livro, se quiser. Bjs