quarta-feira, 25 de julho de 2012

Na estrada com Walter Salles



Por coincidência, li o livro "On the road" de Jack Kerouac este ano, depois de algumas tentativas frustradas de leitura. Isso acontece comigo de vez em quando: tento iniciar a leitura de um livro sem sucesso até que um dia - não sei por que - a barreira se desfaz e conseguimos estabelecer uma relação profícua e duradoura.
Foi assim com "On the road" e também com outro livro - este de Moacyr Scliar - que estou lendo agora e vou comentar mais adiante, quando concluir sua leitura.
Fiquei tão fascinada pelo livro de Kerouac que fui buscar mais informações sobre ele e aí descobri que Walter Salles, o badalado cineasta brasileiro, estava concluindo um filme baseado no livro.
Naturalmente fiquei louca para assisti-lo. Minha curiosidade ficou ainda mais atiçada graças a uma matéria lida na revista da Gol, durante um voo para o Rio em junho passado.
Quando vi que o filme estrearia em Cuiabá juntamente com o lançamento no resto do país, quis ir vê-lo no primeiro fim de semana, mas não consegui. No domingo passado, finalmente, assisti à adaptação feita por Salles para o livro de Kerouac.
Ainda não tenho uma opinião 100% formada, mas eu gostei do filme, embora ache que ele não seja o melhor programa para a maioria das pessoas. Aliás, Diana, minha filha mais velha que me acompanhou, notou a quantidade de pessoas que deixou a sala de cinema do Pantanal Shopping antes do final da sessão.
O filme é meio confuso, como o livro, cheio de personagens malucos que entram e saem da história, protagonizada pelo escritor Sal Paradise (interpretado pelo ator Sam Riley e alter ego de Kerouac) e pelo aspirante a escritor Dean Moriarty (personagem interpretado por Garrett Hedlund e inspirado no escritor Neal Cassady). Tem algumas mulheres, como a doidinha Marylou (Kristen Stewart), a amarga (ou realista?) Camille (Kirsten Dunst), que disputam o amor de Dean, e a mexicana interpretada pela atriz Alice Braga, que vive um romance com Sal. Quanto aos homens, os mais presentes são Carlo Marx (interpretado por Tom Sturridge, que seria na verdade o poeta Allen Ginsberg) e Old Bull Lee (vivido pelo ator Viggo Mortensen e inspirado no escritor William S. Burroughs).
Como o livro ainda está fresco na minha memória, consegui acompanhar todas as aventuras e ainda senti falta de algumas passagens e personagens que no livro têm uma presença forte. Mas é claro que seria impossível levar para a tela todos os personagens do livro de Kerouac, que marcou justamente por seu estilo inovador, pela narrativa em primeira pessoa e sem firulas, nos anos 1950.
Acho que o diretor conseguiu levar para a tela uma boa versão do livro, que talvez instigue uns e outros a encarar sua leitura. Aquela coisa louca de fumar, beber e se drogar o tempo todo está bem presente, o que fez Diana, minha filha, fazer o seguinte comentário: "E ainda dizem que o povo de hoje que é doido!" Na verdade, cada momento era vivido como se fosse o último.
A trilha sonora do filme, embalada por muito jazz, é interessantíssima, assim como algumas cenas em que a música tem uma participação fundamental. Admito, porém, que em alguns momentos o filme fica meio cansativo, justamente por tratar de acontecimentos meio jogados, aparentemente sem ligação.
Gostaria de saber a impressão sobre o filme de outras pessoas que não leram o livro. Diana gostou, mas teve em mim uma espécie de tradutora. Certamente ela não veria o filme se não fosse pelo meu convite.
Os atores estão bem, embora eu imaginasse o Sal mais franzino e menos bonito para contrastar mais com a masculinidade exacerbada de Dean Moriarty. A propósito, o ator que o interpreta é lindo, mas achei meio exageradas as comparações com James Dean e Marlon Brando, que li na internet.
Vale a pena ver o filme, mas vá com o espírito desarmado e sem esperar uma história daquelas que a gente fica querendo saber o fim. "On the road" ou "Na estrada" é como um álbum com muitas fotos e recordações de uma época de várias viagens. As histórias que ligam umas às outras ou que estão por trás dessas imagens nem sempre são totalmente ou suficientemente contadas.

Um comentário:

Amanda Costa disse...

Assisti o filme e é bem psicodélico, mas eu particularmente gostei, teve uma ótima direção. Só a Kristen Stewart que tem sempre aquela cara de nada quando está feliz, triste, brava, fazendo sexo, chorando... e isso é irritante.