segunda-feira, 19 de março de 2018

Maria Madalena


Assisti ontem ao filme "Maria Madalena", do diretor australiano Garth Davis. Como já fui aguardando um filme lento - por conta de comentários ouvidos -, não me chateei com o ritmo do filme. 
Pelo contrário, eu me deliciei com a paisagem, a trilha sonora de Johann Johannsson, que morreu em fevereiro passado, antes mesmo da estreia do longa; a interpretação dos atores (especialmente, Joaquin Phoenix e Rooney Mara), baseada em troca de olhares; os diálogos plenos de simbologia.
Quase tudo que diz respeito à história de Jesus Cristo é fruto de versões criadas a partir de testemunhas da época, entre eles, obviamente os quatro evangelistas: Lucas, João, Mateus e Marcos.
Como fui criada num ambiente católico, frequentei colégios católicos e a Igreja católica por muito tempo até perder a minha fé, aos 17 anos. Depois disso, juro que tentei seguir alguma religião, mas até hoje não consegui recuperar minha fé em Deus, embora não me considere uma pessoa ateia. 
Disse isso para justificar por que sou relativamente aberta a novas versões da história desse homem que transformou a história da humanidade. 
Os acontecimentos narrados no filme "Maria Madalena" subvertem a história tradicional (que ouvi desde a infância), que apresentam a personagem como uma prostituta que se arrependeu de seus pecados por amor ao Cristo. Essa versão justifica expressões como Madalena arrependida e é fruto do machismo da época. 
Chega a ser engraçado falar em "machismo da época" num momento em que ainda se defendem direitos iguais para homens e mulheres em pleno século 21, e um candidato à presidência aqui mesmo no Brasil afirma que mulheres deveriam ganhar menos que homens.
No filme de Garth Davis, Maria é uma moça que vive num clã familiar, numa aldeia à beira de um lago (ou à beira-mar), que seria a origem de seu segundo nome (Magdala). Ela não aceita o casamento arranjado pela família e tem um poder de persuasão e de acalmar as pessoas, expresso numa das primeiras cenas do filme.  A recusa ao casamento faz com que logo receba a acusação de estar possuída por demônios.
Para sua sorte, Jesus passava por sua aldeia e ela acaba decidindo segui-lo como outros discípulos, contrariando a vontade da família e até de outros discípulos como Pedro.
Há passagens lindas no filme, outras meio dúbias, mas é claro que não pretendo contar tudo. O Jesus interpretado pelo ator Joaquin Phoenix é humano por demais, demonstra raiva, medo, confusão ... É também estoico, forte, apaixonante. 
Judas também tem uma participação forte no filme, que foge aos padrões do traidor que entregou Jesus aos romanos em troca de dinheiro.
Li uma crítica no jornal El País que diz ser possível pegar no sono várias vezes no caminho do Messias a Jerusalém. Achei engraçado e exagerado, mas "Maria Madalena" não é um filme para todos. 
Não sei se por conta do momento atual - a recente execução da vereadora Marielle Franco e uma onda de obscurantismo que invade o país -, mas posso dizer que eu me emocionei em vários momentos do filme, e saí do cinema tocada por ele e pela mensagem de amor, compaixão e misericórdia passada por Jesus e Maria Madalena.

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