sexta-feira, 16 de março de 2018

Por quem os sinos dobram




Nas últimas horas foi difícil pensar em outra coisa que não fosse o assassinato brutal da vereadora Marielle Franco, no Rio de Janeiro. Eu me envolvi em debates, me decepcionei com algumas pessoas relativamente próximas que insistem em não compreender a diferença entre uma execução (os algozes de Marielle nem tentaram disfarçar isso) e o rol de mortes brutais de pessoas em meio à violência que brutaliza minha cidade do coração (o Rio de Janeiro).
Poemas foram escritos para louvar a luta de Marielle, charges emocionantes foram feitas. Milhares de pessoas foram ao seu velório na Cinelândia, no Centro do Rio; outras tantas homenagearam Marielle e o motorista Anderson em várias cidades no Brasil e no exterior. 
Até agora, não temos ainda os nomes dos responsáveis pelo crime cometido numa capital sob intervenção federal. Diga-se de passagem que essa intervenção era questionada por Marielle. 
Na minha cabeça misturam-se dezenas de fatos recentes: a execução da juíza Patrícia Aciolly que condenou PMs do batalhão de São Gonçalo, um dos mais violentos do Rio. A política de pacificação das favelas que deu certo em algumas comunidades e foi um fracasso em outras. A entrevista do traficante Nem da Rocinha, publicada esta semana no jornal El País, onde ele defende a legalização das drogas para acabar com o tráfico.
Mas é inegável que a população mais pobre é a que mais sofre com tudo isso. Abandonada à própria sorte, ela fica refém do tráfico e acuada pela polícia. 
Há uma banda podre na política fluminense (e de boa parte do país) que se locupleta com os lucros do chamado crime organizado. A quem interessa essa violência toda? Quantas empresas de segurança, fabricantes de arma ganham com o medo instaurado nos bairros de classe média e alta? Interessa acabar com tudo isso?
.Hoje, não tenho respostas. Só perguntas e muitas dúvidas. 
Não conhecia Marielle, uma liderança jovem, e obviamente não votei nela, mas respeito sua luta, sua força e lamento muito a sua morte, assim como a de Anderson, seu motorista naquela noite.
Que estas mortes não tenham sido em vão, como tantas outras! 
É difícil viver num país sem esperança e sem compaixão. onde a gente não consegue mais acreditar em ninguém e se choca ao saber quão duro e indiferente pode ser o coração de um colega ou mesmo de um parente.
Por isso, depois de muito me indignar, escolhi a frase tirada do livro "Por quem os sinos dobram" de Ernest Hemmingway para dar título a este post. 
"Não me pergunte por quem os sinos dobram
Eles dobram por ti".
Hoje eles dobram por Marielle e Anderson. Amanhã??? Podem dobrar por mim, por ti, por nós.

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