quinta-feira, 3 de agosto de 2017

O poder da palavra

Faz muito tempo que não frequento este espaço, mas hoje acordei chateada, triste, deprimida, e resolvi que precisava botar um pouco do que sinto para fora num espaço que é quase só meu.
Ontem à noite, assisti alguns minutos ao triste espetáculo que se desenrolou no Congresso, que livrou a cara de Temer.  Eu revivi sentimentos horríveis do dia 17 de abril de 2016, quando praticamente a mesma corja votou a favor do impeachment da presidente eleita Dilma Rousseff.
Nunca acreditei naquela conversa pra boi dormir de que o que estava em jogo era combater a corrupção no país e me admiro cada vez mais que tanta gente (de boa índole) tenha acreditado nessa lorota. 
Várias pessoas indagaram após a votação: você realmente acreditava que esse Congresso iria votar a favor de que Temer fosse investigado? Não devia, né? Mas, no fundo a gente sempre tem esperança num "final feliz", acreditando que boa parte dos deputados pudesse seguir a vontade da maioria da população. Tá bom, tirar Temer não seria um final e, tampouco, feliz, mas, pelo menos seria mais coerente com "a cruzada contra os corruptos" iniciada no momento em que Dilma foi reeleita. Como conviver com um presidente que recebe empresários na calada da noite para tratar de assuntos que estão longe de serem lícitos?
Estou tão desolada que preciso me segurar em alguma coisa para não desabar. 
Assisto quando posso à série "Os dias eram assim" na TV e fico me lembrando de tudo que nosso país passou nas últimas décadas. Choro diante da esperança que nos alimentou no período pós-ditadura em torno do sonho da democracia, de um governo justo em que não houvesse corrupção, discriminação, violência, tortura. 
Realmente tudo isso parece utopia num país marcado pela exuberância, mas também pela desigualdade, uma nação de coronéis, de puxa-sacos e de pessoas que sonham subir na vida sem esforço. 
Alguém há de dizer que estou sendo muito negativa e que há muita gente boa, batalhando honestamente por seu ganha-pão. Ok, mas então por que temos tantos parlamentares (em todos os níveis de representação) tão desonestos, tão venais? 
Outros irão dizer que tudo é uma questão de evolução, de educação, que nossa democracia é muito jovem. Tá, mas como ter educação e cultura se são essas as maiores e primeiras vítimas dos cortes orçamentários?
Enfim, hoje não tenho boas notícias para dar. Lamento. 
Assisti esta semana ao documentário "O Poder da Palavra", do diretor João Manteufel, que traz vários depoimentos de escritores, letristas, jornalistas, editores acerca do poder da palavra. Eu gostei do filme, me emocionei bastante com alguns depoimentos, principalmente com o do jornalista Lorenzo Falcão, que disse acreditar no poder da palavra. Ele contou uma linda história sobre uma reportagem que fez sobre um orfanato e um menino negro com poucas chances de ser adotado. Sua matéria motivou um colega jornalista a adotar esse menino e, anos depois, o pai adotivo pediu ao Lorenzo para contar a história ao filho adotado. 
"Minha palavra mudou a vida de uma pessoa, pelo menos", disse Lorenzo no filme.
Após a exibição, ele me disse ter certeza de que minha palavra, através do jornalismo, já mudou a vida de outras pessoas. Será? Quantas palavras já escrevi em livros, sites, reportagens publicadas em jornais e revistas do Rio de Janeiro, São Paulo e, mais recentemente, de Mato Grosso? Será que elas mudaram a vida de alguém como sonhei na minha infância?
Sei que a palavra fere, traumatiza, machuca; ela tem o poder de manchar reputações, criar inimizades, mas hoje, sinceramente, estou acreditando mais no poder das atitudes. 
Um abraço diz muito mais que qualquer palavra. 
Um olhar pode transmitir mais reprovação, ódio ou desprezo do que uma palavra. 
Para mim, é mais fácil mentir (ou no mínimo, faltar com a verdade) quando escrevo do que quando olho no olho de meu interlocutor. 
E o que falar do dinheiro, o grande poder dessa nossa sociedade onde a aparência e o poder da compra estão acima de quaisquer valores?
Digo tudo isso para mim mesma para entender o que espero de mim e da minha vida aos 61 anos. É hora de continuar mentindo para mim mesma, me agarrando às pequenas mentiras do cotidiano ou será o momento de fazer algo em que acredito, por menor que seja?





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