segunda-feira, 13 de janeiro de 2020

Mais valia

Entrei hoje numa loja de uma grande rede de drogarias em Cuiabá, por volta de 11h30. Caminhei até o fundo em busca de atendimento e uma mocinha, que estava atrás do balcão e olhava o celular, me disse que não era atendente. Não me ocorreu na hora lhe perguntar o que estava fazendo ali com uma camiseta que tinha a logo da drogaria. 
A única pessoa que poderia me ajudar estava atendendo um senhor e a conversa parecia interminável.
Mesmo assim, resolvi esperar e, alguns minutos depois, ela veio me socorrer. Comentei que aquela loja era muito grande para ter somente uma atendente. Ela me explicou que uma atendente estava de folga e a outra em horário de almoço. Ponderei que não estava chateada com ela e sim com os administradores da drogaria que, aparentemente, não estão preocupados em atender bem o público.
Sempre que entro nessas grandes drogarias, que proliferam nas capitais que nem baratas, fico me perguntando se dá tanto lucro manter estruturas tão amplas em tantos locais da cidade. Sei não.
Mas voltando à cena de hoje, a atendente foi muito gentil apesar da fisionomia cansada e, enquanto refazia meu cadastro, outros clientes foram chegando. Uma moça até desistiu quando viu que tinha outra pessoa já aguardando atendimento.
A atendente finalizou minha compra e foi comigo até o caixa. Comentei que em outras épocas havia até dois caixas funcionando nessa drogaria e agora a mesma pessoa que atendia tinha que responder pelo caixa. 
"É a mais valia" - comentou a moça. 
Trocamos um sorriso cúmplice, tímido e amarelo.
Eu me lembrei dos meus tempos de adolescente e estudante quando fui apresentada ao famoso conceito de "mais valia", ponto-chave da teoria marxista elaborada por Karl Marx e Friedrich Engels. De acordo com o site politize.com.br, mais valia representa a disparidade entre o salário pago e o valor produzido pelo trabalho. Em outras palavras, é a diferença entre o que o trabalhador recebe e o que efetivamente entrega como produção.
Em resumo, é a exploração da mão de obra, que, infelizmente, continua existindo. Hoje, o trabalhador é levado a crer que é "abençoado" por ter um emprego, já que muita gente não tem. As condições estão longe de serem as ideais, ele sofre assédio moral, sexual (às vezes), mas tem que agradecer ao patrão por lhe "dar" o salário que lhe permite sobreviver. 
Num mundo em que o termo empreendedorismo esconde muitas vezes a precarização das condições de trabalho e onde os sindicatos perderam a força (eles também têm sua parcela de culpa ao se tornarem meros caça-níqueis ou capachos dos patrões), não deixa de ser curioso ver uma funcionária de uma farmácia em Cuiabá utilizar um termo marxista para descrever sua situação. 

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