terça-feira, 12 de fevereiro de 2013

Turismo em Cuiabá

Há dias que quero escrever um post sobre a recente passagem de uma amiga turista por Mato Grosso, mais especialmente Cuiabá, e acho que agora que tanto está se discutindo o turismo e a cultura cuiabana por conta do desfile da Mangueira na Marquês de Sapucaí pode ser o momento oportuno.
O assunto mais comentado desde ontem no Facebook foi o desfile da Mangueira. Há quem tenha vibrado e achado linda a "homenagem" da Mangueira, há quem tenha ficado frustrado com as bolas foras do enredo e a falta de conhecimento de carnavalescos e equipe da Rede Globo sobre a capital mato-grossense. Há quem acredite que os R$ 3,6 milhões pagos pela Prefeitura (sob o comando do ex-prefeito Chico Galindo) foram mal empregados; há quem ache - acredite se quiser - que o valor foi até pequeno diante da exposição de Cuiabá no Sambódromo.
Esse assunto ainda vai dar muito o que falar e render discussões apaixonadas.
Particularmente, não tive a menor vontade de ver o desfile, mas não foi nada contra Cuiabá. Nunca gostei de assistir aos desfiles pela TV. Gosto de assistir ao vivo, ali na Sapucaí, ouvindo o rufar da bateria, e, se possível, cantando o samba junto. É a única forma de não me entediar.
Faz muito tempo que os desfiles viraram merchandising e, no afã de  trazer o luxo para a avenida, muitas escolas procuram um patrocinador e se dedicam a enredos que jamais chegariam à avenida (tipo Coréia do Sul, Alemanha, cavalo mangalarga marchador, royalties do petróleo, etc) . Este ano a safra do merchandising foi especialmente generosa.
Sou da turma que acha que o dinheiro poderia ser melhor empregado, afinal, Galindo entregou a Prefeitura com milhões de restos a pagar.
Eu me pergunto quem teve essa ideia, afinal? Como se deu o encontro da Mangueira de Ivo Meirelles, escola do meu coração, com a turma do Galindo?
Já que o negócio foi feito que fosse melhor supervisionado. A coisa até que andou direitinho no começo e teve gente que até acreditou que um samba enredo elaborado por compositores de Cuiabá poderia levar a melhor sobre a obra de compositores do Rio de Janeiro. Não se trata de uma questão de qualidade, acontece que vitória de samba enredo nas escolas do Grupo Especial do Rio é coisa de polícia (ou de bandido), que envolve muitos interesses.
A pergunta é simples: será que alguma daquelas pessoas que assistiu ao desfile na noite de segunda-feira (os cuiabanos de tchapa e cruz não contam) vai visitar Cuiabá por conta do que viu na avenida?
Só saberemos com o tempo, mas acho que há outras formas de divulgação mais eficazes.
A questão principal, entretanto, é outra: você já tentou fazer turismo em Cuiabá? Come-se muito bem em Cuiabá e há muitos lugares para se beber, dançar, ouvir música de qualidade, mas que programa turístico você pode oferecer sem ser uma ida a um restaurante ou a um bar?
Não vale dizer Chapada dos Guimarães porque Chapada não é Cuiabá.
Vivi essa experiência há três semanas e ficava triste quando ouvia os relatos de minha turista: calçadas ruins, com lixo, ruas esburacadas, falta de sinalização turística, dificuldade para se obter informações sobre os pontos turísticos, etc, etc.
Minha amiga viveu uma situação surreal: ligou para um telefone da Secretaria de Estado de Desenvolvimento do Turismo (Sedtur) de apoio ao turista e recebeu a resposta de que deveria procurar a Secretaria Municipal de Turismo de Cuiabá para ter as informações sobre a cidade. Ela achou a resposta razoável e ligou no número que o funcionário da Sedtur lhe deu. Pois na Secretaria Municipal de Turismo uma mulher mandou ela ligar para a Sedtur!
Minha amiga explicou que estava ligando lá por orientação da Sedtur, mas não adiantou muito. A funcionária não sabia informar nada e para quase todas as perguntas da turista, respondia: pergunte ao motorista de táxi. Minha amiga chegou à conclusão que já sabia mais sobre os horários de funcionamento de museus e igrejas que a própria funcionária da Secretaria e não aguentou:
- E o que a senhora está fazendo aí? - indagou.
A maioria dos museus de Cuiabá está fechada ou padece de falta de segurança, foi o que constatei em um trabalho feito sobre produtos turísticos da capital há um ano e meio. A maioria das igrejas históricas permanece fechada a maior parte do tempo. O que resta ao turista: um passeio ao São Gonçalo Beira-Rio, mas não há uma estrutura mínima de turismo para conduzir o interessado, tipo city-tours ou coisa do gênero. Ou seja, ou você tem um parente para levá-lo de carro aos locais ou morre numa grana com táxi. E torce para ter a sorte de pegar um motorista bem informado, o que é difícil (o último que peguei sequer sabia onde era a avenida Dom Bosco, uma das mais conhecidas da cidade).
E o que a Prefeitura está fazendo diante disso? Investindo dinheiro em propaganda de eficiência duvidosa.

Um comentário:

Dete disse...

Que pena que Cuiabá está assim, tão maltratada pelo tempo e pelo descaso político. Mas político não anda a pé, né? Não precisa se preocupar com calçadas...