sábado, 11 de junho de 2016

Violas em concerto



Não poderia deixar de registrar a última noite do projeto Sonora Brasil 2016 em Cuiabá. Violas em concerto era a proposta do espetáculo que trouxe a Mato Grosso dois músicos singulares: Fernando Deghi (PR) e Marcus Ferrer (RJ). 
Eu poderia falar horas sobre a apresentação, mas vou me ater ao essencial: foi maravilhoso.  Esqueça o formalismo da música de concerto. Os dois músicos, a seu jeito, eram extremamente falantes e convidaram a plateia a fazer perguntas: eu não resisti.
O concerto acabou sendo um bate-papo entremeado com belíssimas apresentações de um repertório que teve lugar para Guerra Peixe, Gaspar Sanz (a belíssima "Canários") e peças de compositores contemporâneos como Roberto Victorio de Mato Grosso.
Infelizmente não fiz uma foto dos músicos no palco, confiando nas fotos que encontraria na net. Queria mostrar a viola-harpa linda, executada por Deghi. O instrumento é um dos mais bonitos que já vi na vida e dedilhado pelo músico parecia uma coisa de outro mundo.
Os dois contaram que não se conheciam antes de participar do projeto Sonora Brasil. "Foi um casamento arranjado", brincou Deghi. E não é que deu certo? Dois músicos com história de vida diferentes, até onde fiquei sabendo - Ferrer é professor  da Escola de Música da UFRJ e doutor em Teoria e Prática da Interpretação; Deghi não tem uma vida acadêmica, embora se dedique à pesquisa da viola. 
Em comum, uma competência técnica absurda, uma sensibilidade musical impressionante e a paixão pela viola. 
"A gente não escolhe a viola. Ela que nos escolhe" - afirmou Deghi.
Meu saldo da semana: minha paixão pela viola só aumentou (pena que ela não me escolheu!), seis CDs (sendo três ganhos, dois de presente antecipado pelo meu aniversário, dados por minha irmã Jane, e um ganho do próprio Deghi) e uma vontade de conhecer, ouvir e divulgar a viola cada vez mais.
Ferrer contou que ainda resiste um preconceito grande na academia em relação à viola - segundo ele, um instrumento mais antigo que o violão no Brasil. O professor Adelmo Arcoverde, que se apresentou na quinta-feira, disse que há até pouco tempo seus alunos iam para as aulas na universidade com a viola escondida na caixa do violão.
Que louco, né? Tem preconceito até na arte.
 PS: Destaque para a apresentação do poema "Raivas gostosas" de Domingos Caldas Barbosa - filho de um comerciante português e uma escrava angolada que viveu no Brasil no século XVIII.

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